Suíça transforma bem-estar em política pública com visitas a museus

11 de junho de 2025 3 minutos
shutterstock

Em Neuchâtel, na Suíça, médicos passaram a prescrever visitas gratuitas a museus como parte de planos de tratamento voltados à saúde física e mental. A iniciativa, inédita no país, é parte de um projeto-piloto local que busca integrar cultura e bem-estar em uma abordagem inovadora de prevenção em saúde pública.

Desde o lançamento, cerca de 500 prescrições culturais já foram distribuídas, com um orçamento inicial de 10 mil francos suíços. A proposta cobre o custo da entrada em quatro museus da cidade e pode ser expandida, futuramente, para incluir outras atividades culturais, como teatro e dança. A medida foi inspirada em experiências semelhantes realizadas em Montreal, no Canadá, e conta com apoio institucional das autoridades municipais e regionais.

Segundo Marianne de Reynier Nevsky, gerente de mediação cultural de Neuchâtel e idealizadora do projeto, o objetivo é simples: tirar os pacientes de casa, estimular movimento e promover engajamento sensorial e intelectual. A ação é voltada a pessoas com depressão, doenças crônicas ou dificuldades de mobilidade, mas pode beneficiar uma gama ampla de perfis clínicos.

Um relatório da Organização Mundial da Saúde, publicado em 2019, demonstrou os impactos positivos da arte na saúde mental — desde a redução do trauma até o atraso no declínio cognitivo. A própria experiência da pandemia reforçou essa percepção: durante os longos fechamentos de espaços culturais, cresceu o reconhecimento da arte como elemento essencial de equilíbrio emocional.

Marc-Olivier Sauvain, diretor de cirurgia da Rede de Hospitais de Neuchâtel, já prescreveu museus como parte da preparação pré-cirúrgica de pacientes. Para ele, a combinação de estímulo físico e intelectual ajuda os pacientes a se manterem ativos e melhora o desfecho clínico das cirurgias. A ideia, segundo ele, é “colocar o corpo e a mente em movimento”.

A Suíça se junta, assim, a um movimento crescente na Europa. No Reino Unido, o sistema público de saúde (NHS) incentiva desde 2019 a chamada prescrição social, permitindo que médicos recomendem visitas a museus, aulas de arte, jardinagem e atividades físicas. Em Bruxelas, um programa semelhante foi testado em 2022, com foco na recuperação emocional pós-Covid, dando acesso gratuito a museus para pacientes com burnout. Na França, embora ainda sem programa nacional estruturado, diversas cidades têm promovido parcerias entre instituições culturais e centros de saúde mental. Fora da Europa, o Canadá é pioneiro: desde 2018, médicos da província de Quebec podem prescrever visitas ao Museu de Belas Artes de Montreal.

A medida, embora ainda não reconhecida oficialmente pelo sistema de saúde suíço, levanta um debate relevante sobre políticas públicas de baixo custo e alto impacto. A Suíça, que enfrenta uma crescente pressão por soluções mais sustentáveis para seu sistema de saúde — um dos mais caros do mundo — pode encontrar nessas intervenções criativas uma estratégia eficaz e replicável.

Além do impacto na saúde individual, o projeto fortalece o ecossistema cultural local, gera capital social e estimula uma nova lógica de urbanismo voltada ao bem-estar. Estudos como o da London School of Economics estimam que cada euro investido em arte e saúde pode gerar até €4,00 de retorno ao sistema público, via redução de internações e medicamentos.

Europeanway

Busca