A decisão da Suécia de se juntar à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) representa uma mudança histórica para o país, que se manteve fora de alianças militares por mais de 200 anos. No entanto, a crescente instabilidade na Europa, especialmente após a guerra na Ucrânia, levou Estocolmo a uma mudança geopolítica radical e sua união a outros 32 membros (30 países europeus mais Estados Unidos e Canadá).
Antes da Suécia (10,4 milhões de habitantes) outro país nórdico, a Finlândia (5,5 milhões), que tem fronteiras terrestres de 1.500 km com a Rússia (144 milhões de habitantes), já havia aderido à OTAN depois da invasão.
A última participação sueca em guerras data de 1814, mas o país sempre se manteve preparado para eventuais situações de conflito. Em 2017, o serviço militar obrigatório foi reintroduzido para reforçar o sistema de defesa do país, onde atuam de forma integrada o exército, uma marinha equipada com modernos submarinos e uma moderna força aérea composta por jatos Saab Gripen fabricados no país (e similares aos comprados pela Força Aérea Brasileira).
A participação na OTAN implica cooperação militar e defesa mútua. Com a adesão da Suécia, toda a costa do Mar Báltico passa a fazer parte do território da aliança, exceto a costa da Rússia e Kaliningrado (este um minúsculo enclave russo espremido entre a Polônia e a Lituânia).
Além disso, a Suécia concordou em aumentar seus gastos com defesa para atingir a regra da OTAN que prevê investimentos de 2% do produto interno bruto de seus membros nessa área.
Embora visto como movimento lógico em termos de segurança e cooperação militar, por outro lado a adesão levanta questionamentos sobre o papel várias vezes exercido pela Suécia de mediadora de conflitos e defensora do desarmamento nuclear. O país terá agora direito de veto no Conselho da OTAN, o principal órgão de decisão da aliança, mas também enfrentará desafios em sua política externa e de segurança.
Jeito escandinavo de se preparar para guerras
Não é de hoje que a Suécia adota uma abordagem proativa em preparação para potenciais crises. Recentemente, advertências feitas por dois funcionários de alto escalão da Defesa sueca, que alertaram a população sobre se preparar para uma guerra, provocaram pânico e acusações de alarmismo.
A ponto de a organização de direitos das crianças Bris dizer que houve um aumento significativo de ligações em sua linha de apoio de jovens preocupados após verem reportagens ou postagens no TikTok falando sobre o assunto.
Trechos da cartilha distribuída pelo governo sueco em 2018
Em 2018, quase 5 milhões de lares suecos receberam um guia intitulado “Se a Crise ou a Guerra Chegar”, elaborado pelo governo com informação sobre os procedimentos recomendados para o caso de o país enfrentar algum momento emergencial ou ser envolvido em algum um conflito militar.
A iniciativa foi uma reedição atualizada do popular guia “Om kriget kommer” (“Se a guerra chegar”), folheto distribuído pela primeira vez em 1943, em plena Segunda Guerra Mundial (1939-1945) na qual a Suécia adotou a neutralidade, posição mantida durante os anos da Guerra Fria.