Indústria automotiva europeia enfrenta tempos sombrios

05 de fevereiro de 2025 3 minutos
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Os números são impressionantes. E as preocupações, também.

Estamos falando da indústria automotiva europeia, um gigante com 298 fábricas onde são produzidos cerca de 15 milhões de veículos por ano, sendo 80% automóveis de passeio e 20% caminhões, ônibus e comerciais leves (além de motores, componentes e baterias). O setor é responsável por 6,1% dos empregos na União Europeia.

Esse mercado atravessa um período crítico, pressionado por uma combinação de fatores que incluem a concorrência da China; uma cadeia de suprimentos instável; a alta no custo dos componentes; uma transição para veículos elétricos menos suave do que o previsto há dois ou três anos (apesar de os modelos híbridos ou totalmente elétricos já representarem cerca de 50% das vendas no continente).

Esse cenário já se reflete no fechamento de algumas fábricas em diferentes países, na demissão de trabalhadores e na dificuldade do bloco europeu em estabelecer uma indústria de baterias competitiva para seus veículos elétricos, os quais passaram a ser vistos com maior reserva pelos consumidores.

O setor de autopeças, essencial para a cadeia produtiva, está sendo duramente afetado. Nos últimos meses, fornecedores como a alemã Bosch e a francesa Michelin anunciaram cortes significativos de empregos, refletindo uma desaceleração da demanda e uma reconfiguração da indústria. De acordo com associações do setor, mais de 30 mil postos foram eliminados apenas em 2024, um número que supera em mais de 100% as demissões do ano anterior.

A transição para veículos elétricos, que deveria representar uma excelente oportunidade, expôs fragilidades da Europa em um mercado dominado pela competição chinesa no continente. Enquanto empresas chinesas como BYD e CATL ampliam sua presença global com veículos e baterias mais acessíveis, montadoras europeias lutam para reduzir custos e se manterem competitivas. Um exemplo emblemático é o projeto europeu para produção de baterias automotivas, que não conseguiu avançar na velocidade necessária e segue dependente de insumos e tecnologia asiática.

Em 4 de outubro de 2024, a União Europeia impôs novas tarifas para importação de veículos chineses, depois de investigações mostrarem que fabricantes daquele país recebem incentivos do governo de Pequim, como empréstimos subsidiados e facilidades especiais para implantação de fábricas. Com isso, os fabricantes reduzem seus custos e ampliam sua já significativa competitividade no mercado global.

As novas tarifas impostas pela UE podem chegar até 35,3%, percentual adicionado aos existentes 10% de imposto de importação que já estavam em vigor. A medida deve valer por cinco anos.

Os impactos desse contexto não são apenas internos. Fabricantes europeus também enfrentam desafios externos, como o risco de novas barreiras comerciais. Nos Estados Unidos, há pressões políticas para o aumento de tarifas sobre veículos importados, o que poderia prejudicar montadoras como Volkswagen, Mercedes-Benz e Stellantis, que possuem operações relevantes na América do Norte.

Diante desse cenário, a União Europeia começa a se mobilizar para encontrar soluções que aliviem a crise. Recentemente, Bruxelas abriu diálogo com representantes da indústria para discutir medidas que incentivem a competitividade e evitem um êxodo industrial. Algumas alternativas incluem subsídios para a eletrificação da frota, ajustes na política tarifária e maior investimento em infraestrutura para veículos elétricos.

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