
Líderes da União Europeia emitiram neste domingo (10) uma declaração contundente para reforçar que qualquer caminho para a paz na Ucrânia deve ser definido com a participação de Kiev. O apelo ocorre dias antes da reunião marcada para 15 de agosto no Alasca entre o presidente norte-americano Donald Trump e o líder russo Vladimir Putin. A possibilidade de que o encontro avance sem a presença do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky acendeu alertas diplomáticos no continente.
A mensagem, assinada por Emmanuel Macron, Giorgia Meloni, Friedrich Merz, Donald Tusk, Keir Starmer e Ursula von der Leyen, sustenta que apenas uma estratégia que combine diplomacia ativa, apoio contínuo à Ucrânia e pressão sobre a Rússia pode encerrar a guerra iniciada com a invasão de fevereiro de 2022. Entre os signatários, há consenso de que qualquer acordo sobre territórios ou garantias de segurança precisa ser validado por Kiev e pela União Europeia.
O temor europeu é que Washington e Moscou discutam um eventual acordo de cessar-fogo que envolva a cessão de territórios ucranianos. Trump alimentou essa especulação ao afirmar na última sexta-feira que poderia haver “troca de territórios para benefício de ambos os lados”, sem apresentar detalhes. Para Zelensky, esse tipo de proposta é inaceitável: “Quaisquer decisões contra nós ou sem nós são também decisões contra a paz”, declarou nas redes sociais.
Em entrevista à CNN, o embaixador dos Estados Unidos na Otan, Matthew Whitaker, admitiu que a participação de Zelensky no encontro é possível, mas não garantida. A União Europeia, por sua vez, marcou uma videoconferência de emergência com ministros das Relações Exteriores e o chanceler ucraniano para esta segunda-feira, a fim de alinhar posições antes da cúpula.
A primeira-ministra da Estônia, Kaja Kallas, recordou que o direito internacional é inequívoco ao reconhecer todos os territórios ocupados como parte da Ucrânia. O Reino Unido e a Polônia também enfatizaram que qualquer solução que legitime ganhos territoriais obtidos pela força representaria um precedente perigoso para a segurança europeia.
Um cálculo de alto risco
As três rodadas de negociações diretas entre Rússia e Ucrânia em 2025 fracassaram. Moscou mantém exigências que incluem o reconhecimento da anexação da Crimeia, o controle de quatro regiões parcialmente ocupadas e a proibição de adesão de Kiev à Otan. Para a Ucrânia, as condições para a paz incluem a retirada das tropas russas, garantias militares ocidentais e manutenção do fornecimento de armamentos, pontos inaceitáveis para o Kremlin.
Analistas veem a reunião no Alasca como um momento de teste para a política externa europeia. Segundo reportagem da Reuters, diplomatas do bloco temem que a iniciativa de Trump busque um acordo rápido, mais alinhado a interesses de política interna dos Estados Unidos do que a uma solução duradoura para a guerra.
O encontro carrega também simbolismo histórico: será a primeira reunião presencial entre líderes americanos e russos desde 2021 e ocorrerá no território que a Rússia vendeu aos Estados Unidos em 1867.