Do café ao bacalhau: brasileiros e noruegueses unem-se também na cozinha

Após morar quase dez anos entre Suécia e Noruega, a chef Denise Guerschman abriu em São Paulo o restaurante O Escandinavo. Agora, ela faz o caminho inverso e prepara em Oslo um jantar para estreitar laços diplomáticos entre brasileiros e noruegueses

13 de maio de 2019 4 minutos
Europeanway

A cozinha escandinava é hoje uma das mais importantes e premiadas do mundo. Aos poucos, esse brilho, reconhecido no exterior, ganha espaço também no Brasil – e por iniciativas como a da chef Denise Guerschman, que no ano passado abriu em São Paulo o restaurante O Escandinavo, especializado em comida nórdica, em particular a norueguesa.

Na adolescência, Denise fez intercâmbio na Suécia e na Noruega, em uma estada que chegou a um ano. Depois de formada em hotelaria, ela fez um estágio em um restaurante norueguês por três meses. “E esses três meses acabaram virando oito anos. Morei lá por todo esse tempo, sempre trabalhando com gastronomia”, conta a chef em entrevista ao Scandinavian Way. “Desde que voltei ao Brasil, mantenho um ótimo relacionamento com o país, visitando sempre que possível para estar por dentro das novidades, me atualizar e fazer estágios nos restaurantes de colegas que tenho por lá.”

LEIA TAMBÉM:
– Em pódio todo escandinavo, Dinamarca vence o Bocuse d’Or, a Copa do Mundo da gastronomia
– Norwegian estreia no mercado brasileiro e já mira outros passos no país
– Suécia cria o maior restaurante de comida natural (e gourmet) do mundo

Nesta quarta-feira (15/5), a experiência da chef brasileira vai ajudar a estreitar laços diplomáticos entre Brasil e Noruega. Denise foi convidada para preparar um jantar para uma recepção na embaixada brasileira em Oslo, da qual participarão o embaixador Flávio Helmold Macieira, autoridades como a prefeita da cidade, Marianne Borgen, artistas, intelectuais e representantes da Norwegian, empresa aérea que no dia 31 de março abriu oficialmente sua operação no Brasil ao fazer seu voo inaugural entre Rio de Janeiro e Londres. “Um dos pratos, que desenvolvi especialmente por sugestão do próprio embaixador, terá bacalhau e café”, conta ela.

A seguir, a entrevista da chef ao Scandinavian Way.

SCANDINAVIAN WAY: Há algum paralelo entre a culinária brasileira e a norueguesa?
Denise Guerschman: A cozinha norueguesa utiliza muitas preparações de produtos previamente curados, defumados e fermentados, mantendo as características da necessidade de se conservar os alimentos por conta das baixas temperaturas por muitos meses no ano. Na culinária brasileira, como temos abundância de ingredientes e clima favorável o ano todo, trabalhamos mais com produtos frescos.

SW: Que ingredientes são comuns a ambas as cozinhas?
DG: Encontramos aqui no Brasil muitos ingredientes comuns no preparo de pratos noruegueses, como grãos, sementes e peixes de água fria, como a sardinha, por exemplo. Mesmo ingredientes que não têm origem nacional são encontrados aqui, como as frutas vermelhas, o salmão e o cordeiro.

SW: Que prato (ou ingrediente) é muito comum na cozinha norueguesa e não agrada muito ao paladar brasileiro, e vice-versa?
DG: Há um ingrediente bastante popular nos países nórdicos que não é muito apreciado pelo brasileiros: o alcaçuz. Lá, ele é bastante comum em doces, balas, sorvetes e sobremesas em geral. Por outro lado, um ponto da culinária brasileira que não agrada muito aos noruegueses são os doces com grande quantidade de açúcar e leite condensado. Eles estão acostumados com sobremesas menos doces do que as nossas.

SW: Em geral, os brasileiros associam a cozinha norueguesa ao bacalhau. Ele é de fato o prato-símbolo da Noruega ou há outro ainda mais significativo, mas que os brasileiros desconhecem?
DG: Para os noruegueses, o bacalhau é um prato feito com o peixe seco e salgado à moda espanhola, com batatas, pimentões, cebola, molhos de tomate e de pimenta. Lá, eles consomem o peixe que dá origem ao bacalhau, o gadus morhua [N.E.: comumente conhecido como bacalhau-do-atlântico], fresco. Esse peixe é comumente servido nos meses de inverno, acompanhado de batatas e servido com suas ovas e fígado frescos cozidos.

SW: O Escandinavo, seu restaurante, abriu as portas no ano passado. Ele tem recebido muitos clientes noruegueses e dos países nórdicos?
DG: Temos recebido clientes de todos os países nórdicos com frequência! Os únicos que ainda não apareceram por aqui, por enquanto, foram os islandeses.

SW: Entre os clientes brasileiros, que prato tem sido o mais pedido?
DG: O queijo nacional da Noruega, o queijo marrom, é um sucesso absoluto entre nossos clientes. E nosso salmão curado e defumado na casa é sucesso tanto entre os brasileiros quanto entre os escandinavos.

Europeanway

Busca