Como a Finlândia está vencendo a guerra contra as fake news

Nas escolas, crianças e jovens são estimulados a ter senso crítico e não confiar em qualquer informação que leem nas redes sociais ou nos grupos de WhatsApp

20 de maio de 2019 4 minutos
Europeanway

Entre março e abril deste ano, personagens conhecidos da vida dos finlandeses foram porta-vozes de uma campanha criada para manter em alta o senso críticos dos eleitores, que no dia 14 de abril escolheram o novo Parlamento do país. Esse grupo de personagens – do qual faziam parte, entre outros, a viúva de um ex-presidente finlandês, um youtuber famoso e o técnico da seleção nacional de basquete – era heterogêneo, mas a mensagem era uma só: "A Finlândia tem as melhores eleições do mundo – pense por quê", dizia o slogan. E o porquê é a invejável capacidade do país de combater as fake news.

Nos últimos anos, a Finlândia desenvolveu iniciativas para enfrentar a disseminação de notícias falsas. Nesse trabalho, não há grande tecnologia envolvida ou qualquer ferramenta avançada de inteligência artifiial. Em linhas gerais, o que os finlandeses têm feito é ensinar o pensamento crítico já a partir das escolas para que a sociedade não sofra com decisões tomdas a partir de informações falsas. Crianças e jovens aprendem na prática a não confiar em qualquer informação que leem nas redes sociais ou em espaços como grupos de WhatsApp.

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Cursos que ensinam métodos para identificar e combater as chamadas fake news fazem parte de um projeto que quer implementar o ensino sobre mídia e notícias falsas em várias escolas do país. Lançada em 2014, a iniciativa tem como meta ensinar não apenas estudantes, mas também jornalistas e políticos, segundo a CNN. As aulas são uma espécie de manual sobre como identificar manipulações de imagens e vídeos, intimidação e perfis falsos por meio do volume de postagens, inconsistência na tradução e falta de informação pessoal.

Jussi Toivanen, diretor de comunicação do gabinete do primeiro-ministro finlandês, é um dos professores da disciplina. Para ilustrar o método, em sua primeira aula, ele mostrou aos alunos um vídeo considerado “deepfake” (quando o material é muito bem manipulado e parece real) do ex-presidente americano Barack Obama.

A Finlândia combate a propaganda de seus vizinhos russos desde que se declarou independente, há 101 anos. Mas, em 2014, depois da anexação da Crimeia por Moscou, uma guerra de informação tomou lugar nos meios de comunicação. Em 2015, o presidente Sauli Niinisto apelou a todos os finlandeses para lutar contra as fake news. Um ano mais tarde, o país trouxe vários especialistas americanos para aconselhar servidores sobre como reconhecer as notícias falsas e entender por que viralizam, além de aprender a desenvolver estratégias para combatê-las. O sistema de educação também foi reformado para enfatizar o pensamento crítico.

Um resultado prático desses esforços apareceu na pesquisa Reuters Institute Digital News Report 2018: a Finlândia é a líder global em confiança na imprensa, o que significa que a população tem muito menos tendência a apelar a fontes de informação pouco confiáveis. E as fontes de confiança do público incluem uma forte imprensa regional e uma emissora pública.

Um evidência de que a Finlândia está vencendo a guerra contra as fake news, diz a CNN, é o fato de que vários outros países têm se inspirado na iniciativa finlandesa. Talvez seja o caso de também o Brasil começar a aprender com quem tem conseguido resultados nessa frente.

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