Hoje talvez soe impensável, mas a Dinamarca já enfrentou longos períodos com desemprego elevado, em particular entre as décadas de 80 e 90 do século passado. Em 1993, quando a falta de trabalho atingiu seu ápice no país, 12,3% das pessoas em idade economicamente ativa não tinham ocupação. Já faz muito tempo que o desemprego deixou de ser um transtorno para os dinamarqueses, que agora enfrentam um problema na ponta oposta: os efeitos negativos do desemprego baixo demais.
Em maio, a taxa de desemprego na economia dinamarquesa foi de 3,7%, a mais reduzida em mais de uma década, segundo a Danmarks Statistik, a agência oficial de estatísticas do país (em junho, dado mais recente, ela teve leve oscilação para cima, mas chegou a 3,8%, o que não muda o quadro). Se considerados os números desde 2007, a média é de 4,7%, e mesmo quando os efeitos da crise global de 2008 cobraram sua conta eliminando vagas de trabalho na Dinamarca, no ápice, em agosto de 2010, a taxa chegou a 6,2%.
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E por que o desemprego baixo demais é um problema? Porque ele pode, ao mesmo tempo, se transformar em pressão inflacionária e comprometer o crescimento da economia no médio e longo prazos, segundo alertas que têm sido dados por economistas e representantes do setor privado. Um deles foi feito recentemente pela Dansk Industri, a confederação dinamarquesa de indústrias, que manifestou sua ressalva ao revelar, como tem sido rotina, um novo aumento nos postos de trabalho no setor.
“É uma boa notícia que o emprego ainda esteja em alta. Isso reitera que a economia dinamarquesa continua prosperando", disse, no fim de junho, Steen Nielsen, vice-presidente da entidade, ao revelar que as indústrias do país criaram mais de 200 mil postos de trabalho nos últimos cinco anos. “As empresas estão prontas para gerar mais crescimento e empregos, mas elas têm tido dificuldade para encontrar mão de obra."
Em setembro do ano passado, a Dansk Industri já havia feito um alerta sobre os problemas que a limitada disponibilidade de profissionais poderia ter sobre a atividade econômica: sem trabalhadores, não é possível atender a demanda por produtos e serviços, e sem atender a demanda, a economia pode se desacelerar. “O resultado disso é que uma em cada dez empresas dinamarquesas está deixando de atender pedidos, o que significa que toda a Dinamarca está perdendo crescimento e prosperidade", declarou Steen Nielsen na ocasião.
Antes disso, em 2017, Simon Emil Ammitzboll, então ministro da Economia dinamarquês, também demonstrou sua preocupação com a dificuldade do país para preencher vagas que exigem boa qualificação. “Nós temos que fazer algo, tanto no curto quanto no longo prazo, para ampliar nossa força de trabalho", disse ele à agência Reuters. Além disso, não se pode relevar o fato de que, na falta de profissionais disponíveis, as empresas precisam buscar na concorrência, o que passa pela oferta de salários mais altos, um movimento que pode alimentar a inflação.
Nielsen, da Dansk Industri, diz que uma das saídas seria facilitar a contratação de estrangeiros, mas ainda não está claro como o novo governo dinamarquês, eleito em junho, vai lidar com a questão. Em suas 18 páginas, o texto-base que permitiu a formação da coalizão que passou a governar o país fala em “aumentar o emprego além do que já é esperado”, mas sem dar um número específico para a expansão pretendida da oferta de força de trabalho. Uma manifestação mais explícita foi dada pelos Sociais Liberais, que integram a coalizão encabeçada pela primeira-ministra Mette Frederiksen. Eles defendem medidas para facilitar a vida das empresas que desejem trazer mão de obra qualificada de outros países.
Um termômetro da necessidade de importação de trabalhadores: no ano passado, 384 mil estrangeiros conseguiram emprego na Dinamarca. Esse é o maior número já registrado no país.