Como a Suécia se tornou ‘paraíso dos super-ricos’

31 de julho de 2024 4 minutos
Europeanway

A Suécia em sido historicamente reconhecida por seu estado de bem-estar social que imprime um certo caráter igualitário a vida nacional. E sua renda per capita é uma das maiores do mundo ($67,350 em 2024), sem os enormes contrastes existentes entre o topo e a base da pirâmide social em outras economias desenvolvidas do Ocidente.

Mas o país surpreendentemente se mostra também um dos destinos mais atraentes para os super-ricos na Europa. Esse fenômeno tem transformado a paisagem econômica do país nas últimas três décadas.

Mas, como um país que, por tanto tempo, foi governado por políticas socialdemocratas e altos impostos conseguiu se transformar em um paraíso para bilionários? Em 1996, havia apenas 28 pessoas na Suécia com um patrimônio líquido superior a 1 bilhão de coroas (cerca de US$ 91 milhões). Em 2021, esse número saltou para 542. Com uma população de apenas 10 milhões, o país possui uma das maiores proporções de bilionários per capita do mundo, superando até mesmo os Estados Unidos.

A Forbes identificou 43 suecos com patrimônio de US$ 1 bilhão ou mais em sua lista dos bilionários de 2024. Isto equivale a cerca de quatro por milhão de pessoas, em comparação com cerca de dois por milhão nos EUA (que tem 813 bilionários – o maior número de qualquer nação – mas é o lar de mais de 342 milhões de pessoas).

O jornalista Andreas Cervenka, autor do livro Greedy Sweden (“Suécia Gananciosa”), observa que “só se percebeu o fenômeno depois que ele já tinha acontecido”. Estocolmo, em particular, exibe um contraste gritante entre áreas de extrema riqueza e regiões de significativa pobreza.

Capa do livro Greedy Sweden (“Suécia Gananciosa”) e seu autor, o jornalista Andreas Cervenka

Um dos principais motores desse crescimento foi o próspero cenário tecnológico do país. Conhecida como o Vale do Silício da Europa, a Suécia produziu mais de 40 startups “unicórnios” — empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão — nas últimas duas décadas. Empresas globais como Skype, Spotify, King (criadora do Candy Crush) e Mojang (desenvolvedora do Minecraft) nasceram na Suécia.

Östermalm, uma das áreas mais sofisticadas da capital Estocolmo e lar de muitos milionários suecos

Além do boom tecnológico, as políticas econômicas desempenharam um papel crucial. Desde o início da década de 2010, a Suécia manteve taxas de juros muito baixas, incentivando investimentos em propriedades e startups. Além disso, sucessivos governos ajustaram impostos de maneiras que beneficiaram os mais endinheirados, eliminando impostos sobre riqueza e herança e reduzindo as taxas sobre lucros e dividendos.

Uma pesquisa recente da Universidade de Örebro concluiu que a imagem dos multimilionários suecos é predominantemente positiva e sugeriu que a condição financeira privilegiada é entendida como resultado das mudanças nas políticas económicas do país.

“Enquanto os super-ricos forem vistos como representantes de ideais neoliberais, que incluem trabalho duro, aceitação dos riscos da atividade empresarial e atitude empreendedora, a desigualdade social inerente a esse cenário não será questionada”, afirma o investigador de comunicação social Axel Vikström, em declaração feita à BBC.

A revista inglesa The Economist já publicou ampla reportagem sobre a boa imagem dos endinheirados suecos em seus próprio país, em contraste com o que ocorre em outras economias onde personagens dessa camada social são vistos com desconfiança.

“A popularidade dos multimilionários deve-se, em parte, à percepção de que ganharam dinheiro não através da exploração dos suecos comuns, mas através da criação de multinacionais como a H&M, a Volvo e o Spotify”, escreveu a revista. “Eles também são relativamente modestos. Mesmo nas ruas elegantes há poucos carros sofisticados; pessoas ricas comem Smørrebrød (refeição típica do país) em restaurantes populares junto com todo mundo. E muitas famílias ricas criaram fundações para distribuir grandes somas para boas causas”.

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