Em novembro a atividade econômica desacelerou na zona do euro. De acordo com o “índice de compras” da S&P, ele desceu para 48,3 pontos, abaixo dos 50 pontos de outubro (quando abaixo de 50 pontos, o índice significa contração da economia pelos critérios da empresa). O setor de serviços caiu pela primeira vez desde janeiro, e foi importante vetor para o resultado negativo do mês.
A desaceleração da atividade econômica foi identificada em três das maiores economias do bloco: Alemanha (onde os setores importantes como siderúrgico e automotivo passam por um mau momento), França e Itália.
Depois de um avanço tímido de 0,3% no primeiro semestre, a Comissão Europeia estima o PIB da região em 2024 como um todo crescerá 1,6%. Contribuem para esse resultado positivo, ainda que limitado, a queda da inflação e um mercado de trabalho em alta.
Continuam no radar as incertezas em relação aos desdobramentos da guerra na Ucrânia; os custos da energia ainda em patamares mais altos do que no início da década; gargalos pontuais em termos da supply chain e disputas comerciais com a China.
Na verdade, o crescimento europeu tem sido lento há décadas, aumentando a diferença da atividade econômica entre a região e os Estados Unidos e afetando o nível de vida dos europeus de forma geral. A renda per capita cresceu quase duas vezes mais nos Estados Unidos do que União Europeia desde 2000.
A questão demográfica também preocupa o bloco. A população da Europa deve diminuir nos próximos anos, limitando a disponibilidade de mão de obra. Por isso um crescimento mais vigoroso só será possível a partir de um ganho substancial de produtividade das empresas. Estudos mostram que se forem mantidos os níveis de produtividade registrados desde 2015 na região, o resultado seria apenas a manutenção do PIB, nos mesmos patamares, até 2050.
Em outras palavras, mantido esse cenário o continente ficaria patinando enquanto seguiriam em expansão economias como a da China, dos Estados Unidos, da India (hoje já a 5ª. maior do mundo) e mesmo as de alguns países emergentes.
Crescer de forma mais rápida e consistente não é uma opção para a União Europeia. O bloco pretende descarbonizar e digitalizar a sua economia, além de aumentar a sua capacidade de defesa. Isso pressupõe um grande volume de investimentos. Além disso, o envelhecimento da população também consumirá cada vez mais recursos para garantir a manutenção do padrão atual de suporte social. De acordo com as últimas estimativas, a parcela do investimento terá de aumentar cerca de cinco pontos percentuais do PIB, em níveis observados pela última vez nas décadas de 1960 e 1970. Para efeito de comparação, os investimentos adicionais aportados pelo Plano Marshall (criado para a recuperação da Europa após a Segunda Guerra mundial) entre 1948 e 1951 se situaram entre 1% e 2% do PIB anualmente.
O diagnóstico feito pela UE para retomar a rota do crescimento e se manter competitiva indica a necessidade de avançar no campo da tecnologia e da inteligência artificial, bem como nos setores farmacêutico, automotivo e de defesa.
Esse caminho significa novas apostas em pesquisa e inovação, investimentos públicos em tecnologias disruptivas e conectividade, além de avanços em infraestrutura. Treinamentos e programas de capacitação são considerados essenciais para dar vida a aquela iniciativas.
Frequentemente chamada de “Velho Continente” antes da bem sucedida expansão do bloco nos anos 1980, 1990 e nas duas primeiras décadas do século 21, a Comissão Europeia liderada pela alemã Ursula van der Leyen quer a qualquer custo evitar que os atuais desafios da região possam levá-la a uma perda de prestígio e relevância no cenário global.
Essa preocupação já ganhou espaço no debate público e na imprensa. Segundo reportagem recente do The New York Times, “a participação da Europa na economia global está encolhendo, e existem temores de que ela não consiga mais acompanhar Estados Unidos e China”.