Tensão política afasta europeus dos EUA e aquece o turismo dentro do continente

08 de maio de 2025 3 minutos
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O verão de 2025 ainda nem começou, mas uma tendência já preocupa a indústria do turismo global: europeus estão evitando os Estados Unidos como destino de férias. O motivo vai além da inflação ou da preferência por destinos internos. Trata-se de um boicote silencioso, mas crescente, motivado por questões políticas e diplomáticas. E que está sendo sentido tanto pelos operadores turísticos quanto pelos formuladores de política externa da União Europeia.

Segundo dados do grupo hoteleiro francês Accor, as reservas feitas por turistas europeus para os Estados Unidos caíram cerca de 25% em relação ao verão passado. Em mercados emissores importantes como Alemanha, França, Espanha e países nórdicos, o recuo é ainda maior. A principal explicação está longe de ser econômica: é política.

A volta de Donald Trump à presidência dos EUA reativou tensões transatlânticas. Suas declarações agressivas contra aliados europeus, a ameaça de tarifas comerciais contra produtos da UE e o endurecimento das regras de imigração criaram um ambiente hostil, ao menos na percepção de parte significativa da opinião pública europeia. Ao cancelarem ou evitarem viagens aos Estados Unidos, muitos cidadãos do bloco expressam, na prática, uma rejeição ao clima político instaurado no país.

O turismo é um dos termômetros mais sensíveis das relações internacionais. Embora o boicote europeu não tenha sido orquestrado por governos, ele reflete um desconforto crescente dentro da Europa com os rumos da política externa americana. A percepção de que os valores europeus — como multilateralismo, democracia liberal e direitos humanos — estão sendo desconsiderados por Washington alimenta esse distanciamento.

A queda nas viagens transatlânticas também reacende um debate antigo dentro da UE: até que ponto a Europa deve depender dos Estados Unidos — inclusive no plano simbólico, como destino aspiracional? Com a guerra na Ucrânia, a ascensão da extrema direita e o aumento da vigilância digital, há uma busca crescente por autonomia estratégica em todos os campos — da energia à segurança, da tecnologia ao turismo.

Consequências econômicas internas

Apesar de parecer um ato de protesto individual, o afastamento dos turistas europeus dos Estados Unidos tem impactos econômicos na própria Europa. Agências de viagens, companhias aéreas e operadores especializados em roteiros americanos reportam queda na demanda e redirecionamento de ofertas para destinos mais “neutros” ou com afinidades culturais — como Canadá, Japão e países da América Latina.

Por outro lado, destinos dentro da própria Europa ganham força. Espanha, Portugal, Croácia e Grécia têm se beneficiado do retorno do turismo interno e intrarregional. Grandes cidades como Paris, Roma e Berlim também recuperam o fluxo de viajantes intraeuropeus, impulsionados por preços mais atrativos e menor tensão geopolítica.

Especialistas em relações internacionais veem no boicote um reflexo de algo mais profundo: a tentativa da Europa de se posicionar como um polo de influência autônomo em um mundo multipolar. A ruptura simbólica com os Estados Unidos, mesmo que parcial e temporária, revela o desgaste da liderança americana aos olhos de parte da população europeia — especialmente entre os mais jovens e politizados.

Não se trata apenas de onde os europeus querem passar as férias, mas de quais valores estão dispostos a reforçar com suas escolhas. O turismo, nesse contexto, torna-se uma ferramenta silenciosa de posicionamento político.

 

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