É possível que você já tenha ouvido falar em hygge. O termo não tem tradução direta para o português, mas resume a ideia de aconchego, conforto, satisfação com os prazeres simples da vida. Esse conceito espalhou-se pelo mundo desde a última década como um dos “segredos” de felicidade da Dinamarca. Nos últimos meses, foi a palavra samfundssind que entrou em evidência. Virtualmente em desuso havia muito tempo, ela reapareceu por causa da pandemia.
Assim como hygge, samfundssind não pode ser traduzida com um único termo. Sua ideia, no entanto, ficou clara nas ações de combate ao novo coronavírus: colocar o bem da sociedade acima dos interesses pessoais. O espírito de comunidade e o trabalho em conjunto ajudaram a população a enfrentar o período mais agudo de isolamento social, entre março e maio. A reabertura dinamarquesa ainda está em andamento.
No dia 29 de abril, a primeira-ministra Mette Frederiksen declarou que o coronavírus estava sob controle no país. A Dinamarca tem sido bem-sucedida na luta contra a covid-19, segundo a avaliação internacional, e o conceito resumido pelo termo samfundssind é considerado um dos responsáveis por esses resultados.
Uma evidência de que samfundssind voltou a ser um termo corrente no país foi a disparada de suas menções na imprensa. Em fevereiro deste ano, a palavra apareceu 23 vezes nos principais veículos impressos dinamarqueses. Apenas um mês depois, foram 2.855 menções, segundo levantamento citado à BBC pela pesquisadora Marianne Rathje, do Departmento de Línguas e Comunicação da Universidade do Sul da Dinamarca. Nos primeiros seis meses de 2019, samfundssind apareceu 611 vezes em jornais e revistas dinamarqueses; no mesmo período deste ano, foram 9.299 registros.
Origem do termo
Samfundssind é uma união das palavras samfund (sociedade) e sind (mente). Seu uso remonta ao ano de 1936, e um de seus registros mais famosos ocorreu no início da Segunda Guerra Mundial, em um apelo por solidariedade feito pelo então primeiro-ministro Thorvald Stauning.
O termo ficou em relativa hibernação até o último dia 11 de março, quando a premiê Mette Frederiksen anunciou as medidas de isolamento do país. Responsabilidade coletiva e espírito comunitário nunca saíram da vida da Dinamarca, mas, na pandemia, essa ideia voltou a ter um termo para fazer referência a ela.