O portal European Way conversou com a jornalista Paola De Orte. Natural do Paraná, Paola atualmente é correspondente no Oriente Médio para a Globo News e o jornal O Globo. Antes, ela atuou como correspondente em Washington DC, nos Estados Unidos, e teve passagens por Brasília. Dedicada a buscar diferentes perspectivas sobre uma região rica em história e mergulhada em conflitos, ela nos conta como o Brasil está sendo visto na região e destaca que por lá os resultados eleitorais brasileiros foram vistos de forma distinta entre os povos.
European Way: A imprensa mundial tem destacado que a vitória do Lula reposicionou o Brasil na agenda ambiental. Como correspondente internacional, qual a sua avaliação da leitura geral da conquista da presidência pelo Lula?
Paola: Como o meio ambiente tem ocupado um espaço cada vez maior na agenda internacional, a vitória foi vista pela maior parte da mídia como um sinal de que o Brasil deve reverter sua política ambiental, que vinha sendo muito criticada até então. Como sou correspondente no Oriente Médio, a repercussão teve alguns aspectos específicos relativos à região. Palestinos, por exemplo, comemoraram muito, pois consideram Lula um de seus aliados – foi no final de seu governo que o Brasil reconheceu a Palestina como estado. Já em Israel, há certa preocupação com a derrota de um presidente considerado aliado (Bolsonaro) e a vitória de um presidente que consideram pender mais para o lado dos palestinos, embora essa avaliação não seja consensual, e muitos israelenses considerem Lula também um possível aliado em termos diferentes de Bolsonaro.
European Way:Há uma grande expectativa em relação às relações internacionais, em como será a agenda do Brasil nos próximos anos. Qual a sua avaliação sob o ponto de vista internacional?
Paola: A expectativa é que a política ambiental seja colocada no centro da pauta e que a proteção das florestas brasileiras seja conduzida com mais rigor. Esse é o principal ponto que aparece como política interna brasileira que repercute internacionalmente a ponto de interferir em temas que interessam a sociedade civil e o governo de outros países.
European Way: Um dos grandes desafios para o próximo governo é conciliar a agenda ambiental e a necessidade de manter seus níveis de produção de grãos, carnes, além de produtos de mineração, fundamentais para a Balança Comercial Brasileira. Como os países europeus ou da sua área de atuação têm avaliado essa questão?
Paola: Em geral, os países europeus, os Estados Unidos e outros lugares que acompanho não vêem uma contradição evidente entre conciliar a preservação do meio ambiente e impulsionar a agricultura e o comércio. Esses países entendem que isso pode fazer com que produtos fiquem mais caros, mas, nas conversas e entrevistas que conduzi ao longo dos últimos seis anos, o entendimento é de que é um preço que deve ser pago. Mesmo entre fazendeiros conservadores e que apoiavam o ex-presidente Donald Trump, nos EUA, por exemplo, o cuidado com o meio ambiente era visto como central, e o Brasil era criticado por não colocar mais esforços nisso.
European Way: As questões relacionadas aos Direitos Humanos, políticas sociais e, em especial, o combate à fome estão na agenda de prioridades do Brasil. Na sua opinião, sendo o Brasil um país tão rico e tão desigual, prejudica a imagem no exterior?
Paola: A principal questão que prejudica a imagem do Brasil no exterior é o meio ambiente. O assassinato de Marielle Franco também teve alguma repercussão e a história é conhecida por quem acompanha temas de direitos humanos mais de perto. A desigualdade brasileira também aparece como um tema, mas, para a população em geral, é o meio ambiente que ganha destaque.
European Way: Quais são os principais desafios do Brasil para a recuperação de sua imagem internacional?
Paola: Convencer a sociedade civil e governos de outros países de que o Brasil está disposto a se engajar em uma política ambiental séria, comprometida e que apresente resultados concretos e mensuráveis.
European Way: Na sua experiência profissional, qual a sua avaliação em relação ao interesse das nações que acompanham sobre as temáticas do Brasil?
Paola: O interesse pelo Brasil é menor hoje do que foi há dez anos. A eleição de Lula movimentou a mídia internacional e fez reacender momentaneamente um debate, embora hoje o país ocupe um espaço menor do que ocupava.
European Way: Para além da Amazônia, o que mais se fala sobre o Brasil?
Paola: O Brasil ainda tem soft power. No Oriente Médio, por exemplo, a primeira reação das pessoas quando se fala que é do Brasil ainda costuma ser positiva, seguida de uma lista de bandas brasileiras, músicos, jogadores de futebol ou praias. Apesar da mudança que ocorreu na imagem em termos negativos por causa do meio ambiente, outros aspectos positivos ainda costumam ser associados ao Brasil.