Questão climática causa divergências entre ExxonMobil e União Europeia

23 de fevereiro de 2024 3 minutos
Europeanway

De um lado, o gigante americano do petróleo ExxonMobil (vendas anuais de US$ 347 bilhões), um dos maiores produtores da Europa e  a principal empresa de refino no continente. Do outro lado, a União Europeia representando 27 países (e dona de 14% de todo o comércio mundial).

O gongo parece pronto para dar início a mais um round da batalha que já acumula episódios.

Em dezembro de 2022 a ExxonMobil decidiu processar a UE num esforço de forçá-la a eliminar um novo imposto do bloco sobre os grupos do setor de petróleo. O argumento: Bruxelas teria extrapolado sua autoridade legal ao impor a sobretaxa, a qual seria capaz de gerar recursos de 25 bilhões de euros que a Comissão Europeia imaginou usar para neutralizar parte dos aumentos de preços da energia decorrentes da guerra na Ucrânia, reduzindo assim os valores subitamente altos cobrados dos consumidores finais.

Em março de 2023 a ExxonMobil anunciou que poderia rever sua estratégia de atuação na Europa, redirecionando investimentos. Desde então, passou de fato a privilegiar o território americano no planejamento de novos aportes destinados ao seu sistema produtivo.

Esta semana um novo anúncio: a ExxonMobil alertou que está disposta a reter bilhões de dólares em investimentos relacionados a questão climática na Europa, a menos que Bruxelas reduza a burocracia ambiental que segundo a empresa estaria sendo responsável pela “desindustrialização da economia europeia”.

A ExxonMobil investiu mais de 20 bilhões de euros na Europa nos últimos dez anos e sua contrariedade em relação a política climática adotada pelo bloco fica cada vez mais clara. A empresa se juntou há poucos dias a um grupo de dezenas de executivos da indústria do petróleo em reunião realizada na Bélgica com o objetivo de pressionar a UE a rever sua política industrial baseada em tecnologias mais verdes. Batizada de Green Deal, essa abordagem é parte essencial da meta de emissões zero de gases de efeito estufa no continente até 2050.

Líderes políticos da Europa já se mostraram preocupados com a possibilidade de uma regulamentação ambiental mais rígida assustar os investidores e levar empresas a preferir os Estados Unidos ou mesmo a China para sediar novos projetos industriais, deixando de lado a Europa.

A Comissão Europeia, cuja presidente Ursula von der Leyen procura um segundo mandato este ano, tem lutado para implementar o Green Deal e o vê como pilar importante para ampliar a competitividade dos países membros.

Uma crítica recebida nos últimos dias pela ExxonMobil veio de um player inusitado: o fundo soberano da Noruega, o maior do mundo, com recursos de US$ 1,5 trilhão obtidos exatamente do petróleo que o país extrai do Mar do Norte. A direção do fundo se opõe a iniciativa do gigante americano de processar dois grupos de ativistas com participação acionária muito pequena na companhia e que apresentaram uma proposta para que ela estabelecesse metas mais ousadas de redução de emissões e impacto ambiental.

Nicolai Tangen, executivo-chefe do fundo norueguês disse ao jornal Financial Times que estava preocupado com a ação da ExxonMobil contra os grupos minoritários Follow This e a Arjuna Capital e comentou: “É um movimento preocupante. Achamos que é demasiado agressivo e estamos preocupados com as implicações para os direitos dos acionistas.”

Sua intervenção é significativa. Afinal, além de ser cada vez mais ativo nas questões climáticas, o fundo soberano é um dos dez maiores acionistas da própria ExxonMobil.

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