Após 14 anos de domínio conservador, o Partido Trabalhista retorna ao poder no Reino Unido com uma vitória esmagadora nas eleições nacionais realizadas na quinta-feira (4/7). Os resultados oficiais indicam que os trabalhistas conquistaram ao menos 410 dos 650 assentos do Parlamento, enquanto o Partido Conservador do atual premiê Rishi Sunak elegeu apenas cerca de 120 deputados.
Mas apesar da grande vitória dos trabalhistas por goleada contra os conservadores, houve um avanço da extrema-direita no país. Seu partido, o recém-criado Reform UK, não passará de 4 representantes no parlamento, mas como a votação é feita por distritos, seu expressivo número de votos (principalmente nas grandes cidades) não ganhou destaque na cobertura eleitoral.
Ocorre que o Reform UK teve 4,1 milhões de votos, (14,3%) ou seja, ficando em terceiro lugar nesse critério. Trabalhistas tiveram 9,7 milhões de votos (33,7% do total) e conservadores, 6,8 milhões (23,7%).
A ascensão de Keir Starmer
Keir Starmer, de 61 anos, será o novo primeiro-ministro, o primeiro trabalhista a ocupar o cargo desde Gordon Brown (2007-2010).
Assumindo a liderança dos trabalhistas após a derrota nas eleições de 2019, Starmer consolidou sua posição como um líder capaz de unificar e moderar o partido, aproximando-se do centro político e atraindo um eleitorado mais amplo. “Esta eleição é sobre uma oportunidade de mudança”, declarou Starmer. “Ao longo dos últimos quatro anos, mudamos o Partido Trabalhista, retornando-o ao serviço do povo trabalhador.”
Causas da derrota conservadora
A derrota dos conservadores pode ser atribuída a uma série de crises e escândalos que enfraqueceram o partido ao longo dos anos. O Brexit, implementado em 2020, gerou divisões internas e a renúncia da primeira-ministra Theresa May. O escândalo do Partygate, durante a pandemia de covid-19, minou a credibilidade do governo de Boris Johnson. Mais recentemente, o plano econômico mal-sucedido de Liz Truss causou alvoroço no mercado financeiro e alimentou a inflação, levando à sua renúncia após apenas 45 dias no cargo.
Rishi Sunak, que assumiu como premiê em outubro de 2022, enfrentou desafios econômicos significativos. A inflação alta, o custo de vida elevado e as ondas de greves em vários setores marcaram seu breve mandato. Embora tenha conseguido alguns avanços econômicos, como o crescimento de 0,6% no primeiro trimestre de 2024, isso não foi suficiente para recuperar a confiança dos eleitores.
A economia foi o maior problema enfrentado pelo Reino Unido nos últimos anos. Uma pesquisa da consultoria YouGov revelou que 52% dos britânicos consideram a economia a principal preocupação, superando temas como saúde pública e segurança. A pandemia de covid-19, a guerra na Ucrânia e as consequências do Brexit contribuíram para a crise econômica, aumentando o custo de vida e a pobreza.
Os conservadores também enfrentaram críticas por suas políticas de imigração, especialmente o plano de enviar imigrantes irregulares para Ruanda. Considerada inconstitucional pela Suprema Corte britânica, a medida foi duramente criticada por desrespeitar direitos humanos básicos.
Na Escócia, os trabalhistas ganharam 37 dos 57 assentos no Parlamento britânico, um desempenho significativo em comparação com os 48 assentos do Partido Nacional Escocês (SNP) em 2019. A instabilidade recente do SNP também contribuiu para o avanço trabalhista na região.