Países europeus ampliam restrições migratórias em resposta ao nacionalismo e desafios econômicos

05 de junho de 2025 3 minutos
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A crise migratória em Portugal, onde quase 34 mil imigrantes — entre eles mais de 5 mil brasileiros — correm o risco de deportação devido ao colapso do sistema de regularização, escancara uma realidade cada vez mais comum na Europa: governos pressionados por partidos nacionalistas, economias fragilizadas e estruturas públicas ineficientes estão revendo suas políticas migratórias. Em países como Itália, Reino Unido e também no cenário ibérico, medidas recentes têm dificultado o acesso à cidadania, à residência permanente e à contratação de estrangeiros, afetando diretamente imigrantes que já vivem e trabalham nesses territórios.

Na Itália, uma das mudanças mais significativas restringe fortemente as possibilidades de cidadania italiana por descendência. Agora, só é elegível quem comprovar ter pelo menos um dos pais ou avós com cidadania exclusivamente italiana, ou residência comprovada na Itália por dois anos consecutivos antes do nascimento ou adoção do requerente. A decisão busca conter o aumento expressivo de solicitações, especialmente de descendentes de italianos na América Latina e nos Estados Unidos, num momento em que o sistema de bem-estar social enfrenta crescente pressão em meio ao envelhecimento populacional e à estagnação econômica.

No Reino Unido, o governo trabalhista de Keir Starmer propôs alterações substanciais: aumentar de cinco para dez anos o período necessário para obtenção da residência permanente e impor exigências mais rígidas para a contratação de estrangeiros. Embora contradiga o histórico pró-imigração do Partido Trabalhista, a proposta reflete o ambiente político pós-Brexit, marcado por tensões em torno do mercado de trabalho e pela percepção de que imigrantes estariam pressionando salários e oportunidades locais. O movimento também visa conter a perda de apoio eleitoral em regiões tradicionalmente favoráveis ao Brexit, onde discursos protecionistas seguem em alta.

Em Portugal, além da retórica anti-imigração alimentada pelo avanço do partido Chega, o país enfrenta uma crise administrativa sem precedentes. A extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e a criação da nova Agência para a Imigração e Mobilidade (AIMA) resultaram em um represamento de processos e falhas operacionais. A chamada “situação de exceção” — criada para permitir a regularização temporária de milhares de estrangeiros — foi encerrada, e muitos agora enfrentam risco de deportação por não conseguirem concluir seus processos, mesmo tendo seguido os trâmites exigidos. A situação afeta principalmente brasileiros, que hoje formam o maior grupo estrangeiro residente no país, e levanta questionamentos sobre a capacidade do Estado português de lidar com a crescente demanda migratória.

Essas mudanças refletem um cenário europeu mais amplo, em que países tentam equilibrar a necessidade de atrair mão de obra qualificada e o desafio estrutural do envelhecimento populacional com as crescentes pressões políticas por maior controle de fronteiras. Em meio à ascensão de movimentos nacionalistas e populistas, o continente caminha para políticas migratórias mais restritivas — mesmo quando isso significa comprometer a integração de comunidades já estabelecidas e a própria viabilidade de setores econômicos que dependem da força de trabalho estrangeira.

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