Sem isolamento, “O Grito” está se deteriorando, dizem cientistas

28 de maio de 2020 3 minutos
Os tons amarelos da versão da pintura "O Grito" produzida em 1910 estão ficando esbranquiçados

O Grito, uma das obras de arte mais famosas do mundo, está perdendo seu viço original – e o processo tende a se acentuar caso a pintura não seja isolada para evitar o contato direto com o público. Algumas das cores da obra já não têm o brilho de quando o norueguês Edvard Munch a produziu, há mais de um século. Para conter a deterioração, um consórcio de cientistas que investiga o fenômeno recomenda que o quadro seja isolado.

A deterioração está ocorrendo na última das quatro versões de O Grito que Munch pintou entre 1893 e 1910. Segundo os especialistas, o amarelo brilhante das pinceladas do pôr do sol e da região do pescoço da angustiada figura central da obra ganhou um tom esbranquiçado. A tinta amarela opaca e espessa aplicada no lago acima da figura também está desbotando.

Segundo um estudo publicado na revista científica Science Advances, o que tem alterado os tons da tinta amarela à base de cádmio é a umidade. Os cientistas descobriram que, mesmo no escuro, o pigmento ainda se degrada. Isso indicaria que a luz não é um fator-chave para a deterioração.

Pigmento “envelhecido”
"O Grito", de Edvard Munch, pintura de 1910

“O Grito”, de Edvard Munch (1910)

Para realizar a pesquisa, o grupo usou uma combinação de métodos de raios-X e pequenos pedacinhos de tinta da obra. Os resultados revelam que as amostras contêm sulfato de cádmio, um produto de decomposição do sulfeto de cádmio que “envelhece” o pigmento. Isso acontece em condições de 95% de umidade. Não apareceram sinais de deterioração nas amostras expostas a 45% de umidade.

O quadro está hoje no Munch Museum, em Oslo, que deve se mudar a ópera da cidade ainda neste ano. As descobertas dos pesquisadores devem ser consideradas para decidir como a pintura será exibida no futuro. Entre as alternativas estariam reduzir um pouco a umidade do local de exibição – o padrão é de 50% – e evitar que o ar exalado pelos visitantes do museu não chegue à obra. Na respiração, as pessoas exalam cloretos e alteram a umidade do ambiente.

Quaisquer que venham a ser as medidas para preservar O Grito, nenhuma terá efeito sobre a mancha de água claramente visível no canto inferior esquerdo da pintura. O estrago foi causado em 2004, quando assaltantes armados renderam os seguranças do museu, desarmados, e levaram O Grito e outras pinturas do museu. As pinturas foram recuperadas dois anos depois. Três homens receberam sentenças de prisão, e dois deles foram condenados a pagar US$ 121 milhões (em valores da época) em compensações.

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