Noruega muda currículo escolar para promover pensamento crítico

Nada de "combate ao comunismo" ou outros inimigos imaginários: as aulas darão ênfase a temas como democracia, cidadania, sustentabilidade e saúde pública

19 de novembro de 2019 4 minutos
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A partir do próximo ano letivo, as escolas norueguesas seguirão um novo currículo – e os critérios gerais da proposta podem ajudar a nortear iniciativas semelhantes em outros países, Brasil entre eles. Não há nada de "combate ao comunismo" ou qualquer menção a inimigos imaginários. Em vez disso, o plano está centrado no objetivo de estimular o pensamento crítico entre os estudantes.

As mudanças, que passam a valer no outono (setembro a dezembro) de 2020, foram anunciadas nesta segunda-feira (18/11). "Nós precisamos preparar as crianças para a vida profissional, mas também para a própria vida", disse o ministro da Educação e Integração, Jan Tore Sanner, ao apresentar as novidades.

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Não haverá alteração na carga horária dos alunos, mas sim no aprofundamento dos conteúdos de algumas disciplinas. As cinco áreas fundamentais de aprendizagem também seguirão as mesmas: leitura, escrita, matemática e habilidades verbais e digitais. O que muda é a clareza sobre a correlação entre essas disciplinas e sobre seu uso prático (o que pode ajudar a sanar dúvidas muito comuns entre os estudantes, como "por que eu preciso aprender isso?").

O novo currículo acentua mudanças que já apareciam – mas com menos ênfase – no programa anterior, de 2006. "A sociedade está mudando com as novas tecnologias, novos conhecimentos e novos desafios. Isso também impõe exigências à escola do futuro. É por isso que as habilidades digitais, entre outras coisas, ganharam um lugar mais claro nos novos currículos", afirma o ministro.

Isso significa, também, melhorar o julgamento sobre conteúdos digitais, com análise de fontes boas e seguras de informação. O pensamento crítico e a escolha criteriosa de fontes de informação são uma parte central de várias disciplinas, enfatiza o Ministério.

Haverá três tópicos interdisciplinares para interligar os assuntos de cada disciplina: democracia e cidadania, desenvolvimento sustentável e saúde pública e gestão da vida. "Muitas pessoas queriam que os temas interdisciplinares recebessem mais espaço na escola. Eu ouvi a demanda, e os tópicos foram abordados em várias disciplinas após as consultas públicas. O desenvolvimento sustentável, por exemplo, foi incorporado à ciência norueguesa, enquanto democracia e cidadania foram incluídas em matemática", contou Sanner.

Houve queixas de educadores e especialistas em pelo menos um ponto: o ensino do idioma. Não haverá nota mínima para avaliar o desempenho dos alunos nas aulas de Nynorsk, um dos dois padrões escritos da língua norueguesa. Isso ocorre porque apenas uma nota será dada para norueguês escrito e uma para norueguês falado, em vez de haver notas para cada uma das duas formas de norueguês – Nynorsk e Bokmål -, como ocorre hoje.

Embora seja o menos usado dos dois, o Nynorsk tem status igual ao de Bokmål desde 1885. Cerca de 12% dos noruegueses falam Nynorsk. Em 2013, 26% dos 114 municípios do país declararam o Nynorsk como seu idioma oficial. "O governo está rebaixando o status do Nynorsk", disse à NRK a presidente Sociedade da Línguas Norueguesa, Magne Aasbrenn.

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