Na Noruega, cientistas fazem isolamento “mais seguro do mundo”

08 de junho de 2020 3 minutos
A pandemia adiou o fim do isolamento da norueguesa Hilde Strom e da canadense Sunniva Sorby, que estão no arquipélago de Svalbard, na Noruega, desde agosto

Duas cientistas têm cumprido no extremo norte da Noruega aquele que concorre ao posto de isolamento mais seguro do mundo nesta pandemia. Seguro contra o novo coronavírus, mas perigoso em vários outros aspectos: a norueguesa Hilde Strøm, de 52 anos, e a canadense Sunniva Sorby, de 59, instalaram-se no arquipélago de Svalbard para estudar os impactos da crise climática sobre o Ártico. Elas estão no local desde agosto do ano passado, quando o novo coronavírus sequer existia.

A 140 km de qualquer sinal mais evidente de civilização, as pesquisadoras dividem uma cabana de 20 metros quadrados sem água corrente; a que consomem é obtida a partir do derretimento do gelo, uma tarefa que elas cumprem diariamente. A energia elétrica elas só conseguem com geração eólica ou solar, e a oferta é bastante limitada: no inverno, o sol não apareceu no horizonte por cerca de 100 dias. Os primeiros raios de sol surgiram em fevereiro (foto no alto).

O fim do trabalho em Svalbard estava previsto para maio, mas, com as restrições impostas pela pandemia, o barco que deveria buscá-las precisou adiar a missão. A nova data da viagem segue indefinida. Agora, as cientistas esperam deixar o arquipélago até setembro, quando acaba o verão no hemisfério norte.

Cientistas em isolamento no norte da Noruega

Hilde Strom (em primeiro plano) e Sunniva Sorby (Fotos: Hearts in the Ice)

As duas têm larga experiência em condições extremas como a que enfrentam em Svalbard. A norueguesa viveu 22 anos no Ártico; a canadense, por sua vez, trabalhou como guia na Antártida por 23 anos. Isso não significa que a missão tem sido fácil. “Nós sentimos medo até os ossos. O simples fato de termos ficado tão longe de qualquer pessoa por tantos dias de escuridão, literalmente sem termos para onde ir, traz à tona todos os nossos temores mais profundos e sombrios”, diz o texto mais recente (de 1° de junho) do blog que elas mantêm sobre o projeto.

Como precaução contra ataques de ursos polares, por exemplo, as pesquisadoras precisam sempre levar um rifle em suas saídas. Além disso, a cabana em que moram, construída na década de 1930 para ser usada por caçadores de baleias, é cravejada de pregos. Isso impede que os ursos tentem entrar ou subir no telhado.

Café quase no fim

Com o fim de seu isolamento no extremo norte da Noruega ainda indefinido, elas já começaram a racionar comida, embora isso não seja um grande problema, ao menos até o momento. “Já não temos mais frutas frescas, vegetais, leite e em breve ficaremos sem café (socorro!)”, relatam no blog, com bom humor, “mas temos o suficiente para nos mantermos.”

No arquipélago, as cientistas têm coletado informações para vários centros de pesquisa, em uma lista que tem, entre outros, a Nasa, a agência espacial americana, o Instituto Polar da Noruega, o Instituto de Oceanografia Scripps, de San Diego (EUA), e a Universidade Central de Svalbard.

Segundo contam, o envio de dados é, aliás, a maior despesa da expedição, batizada de “Hearts in the Ice” – ou “Corações no Gelo”. Para reforçar o orçamento, em janeiro as pesquisadoras lançaram uma campanha de financiamento coletivo. Os recursos servirão para o envio de informações que elas obtêm no arquipélago.

Europeanway

Busca