Nobel de Economia defende mercado único real para Europa recuperar competitividade

03 de dezembro de 2025 4 minutos
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A União Europeia precisa eliminar barreiras internas e criar um mercado verdadeiramente integrado para reverter o atraso em inovação e produtividade diante dos Estados Unidos e da China. O alerta vem de Philippe Aghion, vencedor do Nobel de Economia 2025, em entrevista à Euronews nesta semana.

O economista francês afirmou que um mercado interno totalmente integrado para bens e serviços impulsionará a competência e a inovação no bloco, destacando que cada país membro tem suas próprias regulamentações que se somam às europeias, fenômeno conhecido como “gold plating”.

As declarações de Aghion ecoam diagnósticos apresentados por duas figuras influentes nos círculos europeus: Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu, que em setembro de 2024 alertou que a UE enfrenta risco de “agonia lenta” sem mudanças radicais, e Enrico Letta, ex-primeiro-ministro italiano. Ambos publicaram relatórios abrangentes sobre a necessidade de reformas estruturais no bloco.

O problema da fragmentação regulatória representa apenas uma face do desafio europeu. Aghion identifica outro obstáculo cultural que dificulta a inovação: na Europa não se assume riscos suficientes e não se perdoa o fracasso de curto prazo, ao contrário dos Estados Unidos, onde o fracasso é considerado parte natural do processo antes de uma descoberta revolucionária.

Os números corroboram o diagnóstico. Desde 2002, o intervalo do crescimento do PIB entre a União Europeia e os Estados Unidos vem aumentando. A diferença entre o PIB europeu e o americano passou de 15% para 30% nas últimas duas décadas, enquanto a China consolida sua posição como rival econômico cada vez mais competitivo.

No campo da inovação, a distância é ainda mais preocupante. Nas últimas cinco décadas, nenhuma empresa da UE com valor superior a 100 bilhões de euros foi criada do zero, e 30% dos unicórnios europeus deixaram o bloco desde 2008 por não conseguirem se expandir no continente.

Aghion propõe que a Europa invista mais capital em setores de alto risco ligados à inovação, com instituições financeiras e capital de risco desempenhando papel mais importante. O economista também defende que governos simplifiquem regulamentações que desencorajam a entrada de novos players no mercado.

O alerta sobre regulação excessiva ganha peso quando comparado com a agilidade de concorrentes. Draghi destacou em seu relatório que as estratégias industriais nos EUA e China combinam diversas políticas, incluindo fiscal, comercial e externa, enquanto a UE é menos capaz de produzir uma resposta ágil devido ao seu processo lento e fragmentado de formulação de políticas.

A Comissão Europeia já começou a responder aos desafios. Em janeiro de 2025, o bloco apresentou o Compasso Competitivo, definindo o curso de legislação e iniciativas para os próximos dois anos em setores estabelecidos, como aço e automóveis, e novas tecnologias, incluindo biotecnologia e computação quântica.

Mas a escala do problema requer investimentos maciços. Draghi propõe a mobilização de investimentos de até 800 bilhões de euros por ano, equivalente a cerca de 4,5% do PIB da UE, provenientes de fundos públicos e privados, possivelmente apoiados por nova emissão de dívida conjunta.

As recomendações ganham urgência num contexto de tensões geopolíticas crescentes e de uma revolução tecnológica impulsionada pela inteligência artificial. Aghion, que recebeu o Nobel junto com Peter Howitt e Joel Mokyr por pesquisas pioneiras sobre a relação entre inovação tecnológica e crescimento econômico de longo prazo, alerta que a Europa não pode se dar ao luxo de ficar presa a tecnologias e indústrias do século passado.

 

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