Na Finlândia, creches reabrem e “bebês da pandemia” encaram os desafios da socialização

13 de agosto de 2021 4 minutos
Europeanway

Sempre aguardada com grande expectativa pelas crianças, a volta às aulas neste ano vem carregada de significados na Finlândia, principalmente para os bebês. Essa será a primeira vez que os bebês nascidos durante a pandemia terão acesso a creches, um desafio para os pequenos que tiveram um longo período de isolamento devido à Covid-19. Somado ao problema de pouco contato social, educadores infantil do país alertam para o fato da falta de interação proporcionada pelas máscaras.

Na cidade de Heinävesi, norte do país nórdico, os alunos maiores disseram que o retorno foi algo trivial e não muito estranho que em anos anteriores. Para muitos foi um momento especial, um reencontro com os amigos.

Mas o que foi encarado com normalidade pelos estudantes mais velhos, vem se mostrando desafiador para uma geração que só conhece uma vida de distanciamento social. Se a adaptação dos bebês já era complicada antes da pandemia, agora se tornou ainda mais complexa devido ao fato das crianças nascidas nesse período terem ficado mais isoladas e sem contato com outros bebês em parques ou bibliotecas, espaços de interação social nessa faixa etária. 

De acordo com a agência Yle, os irmãos Hugo e Luka Manninen que nasceram na mesma época em que as fronteiras de Uusimaa — sul do país –, foram isoladas do resto do país na primavera de 2020, e devido a essas medidas restritivas para o enfrentamento da pandemia, essas crianças acabaram conhecendo menos estranhos. Segundo os pais, começar em uma creche onde estarão rodeadas por muitos rostos desconhecidos pode parecer assustador.

“Creches para famílias com crianças não estavam disponíveis devido à pandemia do coronavírus. Havia fatores pequenos, mas ao mesmo tempo muito grandes, que afetavam a vida cotidiana desde o início”, lembrou a mãe dos gêmeos Nea Martemaa em conversa com a Yle.

Antes de começar a adaptação na creche, Nea começou a levar os pequenos para brincar no quintal e tentar mostrar a eles que há um mundo maior a ser explorado. 

Mas a preocupação dos pais parece não chegar aos especialistas em educação infantil. Para o professor da Universidade de Helsinque Lasse Lipponen, “começar a educação infantil é, de qualquer forma, uma grande mudança para uma criança pequena, mesmo em condições normais, e as crianças são adaptáveis”. 

“Os círculos sociais das crianças são muito mais estreitos. Seu círculo próximo parece o mais importante”, disse Lipponen.

A tensão de uma vida social restrita e a ansiedade decorrente são sentidas pelas crianças principalmente por meio dos adultos. É, portanto, a ansiedade dos adultos que geralmente as crianças sentem, segundo a diretora da Creche Aamurusko Steiner, Sanna Jacksen.

“Quando os adultos estão bem e cuidam de si próprios, as crianças também estão bem”, disse Jacksen.

No entanto, ainda não se sabe ao certo quais serão os impactos de longo prazo sobre as crianças durante esse período de restrições. 

“Os efeitos diretos da pandemia de coronavírus sobre o bem-estar são bastante difíceis de verificar, mas provavelmente existem algumas consequências”, disse o professor Lipponen.

De acordo com estudos globais, crianças e famílias pobres em países pobres são os mais afetados pela pandemia. Mas esse não é um problema na nação escandinava, onde as famílias ricas e de renda média muitas vezes encontram a ajuda de que precisam. 

Os efeitos a longo prazo de circunstâncias excepcionais nas crianças e famílias ainda são difíceis de avaliar. As consequências não serão investigadas até cerca de 10 anos a partir de agora, de acordo com os especialistas.

Proibições e precauções à parte, as diretrizes do Conselho de Educação lembram aos educadores que os sentimentos de proximidade, segurança e interação com os adultos são especialmente importantes para as crianças pequenas e que as creches em particular devem, portanto, se esforçar para as circunstâncias que se assemelham à vida cotidiana, tanto quanto possível.

 

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