O Joint Research Center (JRC), departamento de pesquisa da União Europeia, acaba de lançar um mapa com as principais intervenções em prol do fim da solidão dos europeus. Isso mesmo! Neste levantamento há pelo menos 300 programas ativos na Europa Ocidental com o objetivo de ampliar a socialização e dar alento para aqueles que têm na solidão uma questão importante de saúde.
A União Europeia já havia divulgado há alguns meses um levantamento que revelou Irlanda, Luxemburgo, Bulgária e Grécia são os líderes em solidão, enquanto os Países Baixos, a República Tcheca, a Croácia e a Áustria registram os menores índices.
Embora se espere que a solidão afete os mais idosos, os estudos mostraram que ela atinge também os jovens, em uma relação em U – ou seja, a solidão está presente na vida de jovens entre 19 e 29 anos e em idosos acima dos 65.
Das iniciativas de combate à solidão, 53% são voltadas a idosos e apenas 8,4% para jovens. Outro achado importante é que apenas um único projeto localizado no continente tem como público-alvo os imigrantes.
Epidemia da solidão
Desde a pandemia da COVID-19, o tema passou a chamar atenção dos estudiosos da economia ocidental. Ela tem impacto claro na saúde mental das pessoas, mas pouco se fala sobre seus efeitos na economia de um país. Se viver sozinho por escolha própria impulsiona o crescimento econômico, a solidão compulsória pode afetar negativamente o desenvolvimento de uma região.
Noreena Hertz, uma das mais relevantes pesquisadoras do assunto e autora do The Lonely Century, é enfática ao analisar que enquanto o mercado cria produtos e serviços inovadores para os singles (de aplicativos de carona, jantares com estranhos, acompanhantes virtuais a embalagens reduzidas para refeições gourmet), há um efeito nocivo na saúde pública quando se trata daqueles solitários mais tristes, como o aumento de 50% no risco de desenvolver demência, 30% em doenças coronárias e AVC e 26% na mortalidade por outras causas. Viver só sem querer essa condição pode equivaler a fumar 15 cigarros por dia.
O tema na Europa é tão amplamente discutido que o Reino Unido criou há 5 anos um ministério dedicado ao tema. O mais recente ocupante da pasta é Stuart Andrew, um parlamentar britânico conservador que tem priorizado uma abordagem interdepartamental para combater a solidão, refletindo as complexidades desse problema e pela crise do custo de vida. Ele coordenou esforços para implementar uma estratégia nacional, lançada originalmente em 2018, e investiu em intervenções comunitárias e em campanhas de conscientização que já atingiram milhões de pessoas. A estratégia também envolve o Know Your Neighbourhood Fund, que apoia o voluntariado e a redução da solidão em áreas mais vulneráveis da Inglaterra
Apesar de avanços, críticas sobre a eficácia da estratégia têm aumentado. Alguns parlamentares destacaram a necessidade de atualizar a abordagem governamental, pois a solidão aumentou em meio milhão de pessoas desde 2020.
Programas comunitários oferecem atividades e recursos para fortalecer a conexão social entre as pessoas e projetos como a Estratégia Anti-Solidão de Barcelona têm mostrado resultados promissores. Durante o inverno sueco, onde quase não há luz do sol, há uma campanha chamada Säg hej! (diga oi!) que incentiva as pessoas a se cumprimentarem. O “Eeen Tegen Eenzaamheid” (Um contra a Solidão) também é sucesso na Holanda.
Projetos inovadores como o I2I, na região do Mar do Norte, incentivam a criação e manutenção de teatros comunitários e cafés do bairro. A empresa israelense Intuition Robotics desenvolveu um chatbot que usa inteligência artificial para interagir com idosos, proporcionando companhia e apoio, inclusive de monitoramento de saúde.
A epidemia da solidão é um risco crescente e silencioso para a economia global: se não enfrentada, seu impacto corrosivo sobre a saúde mental e a produtividade pode redefinir o futuro do trabalho, reduzir a inovação e fragilizar a resiliência econômica das próximas gerações.