Geórgia interrompe negociações de adesão à União Europeia até 2028

03 de dezembro de 2024 3 minutos
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A recente decisão do governo da Geórgia de suspender as negociações para adesão à União Europeia (UE) até 2028 provocou uma onda de protestos e tensões políticas no país. O partido governista, Sonho Georgiano, anunciou a suspensão após alegar “chantagem e manipulação” por parte de políticos europeus. Essa medida gerou manifestações significativas em Tbilisi, onde milhares de cidadãos pró-europeus expressaram descontentamento. A polícia respondeu com canhões de água e gás lacrimogêneo, resultando em centenas de detenções e feridos.

Desde a revolução das rosas, em 2003, a Geórgia projetava a adesão à UE como um objetivo estratégico, simbolizando sua busca por valores democráticos e distanciamento da influência russa. A decisão de congelar o processo foi rapidamente criticada pela presidente Salomé Zurabishvili, que descreveu a ação como inconstitucional e um “golpe” contra o povo georgiano. Zurabishvili, embora politicamente isolada, continua sendo uma voz pró-UE em um governo que parece cada vez mais inclinado a adotar políticas alinhadas a Moscou.

Os protestos, organizados por movimentos pró-europeus e membros da oposição, foram recebidos com repressão policial, incluindo o uso de gás lacrimogêneo e canhões de água. Mais de 200 pessoas foram presas em um cenário que reflete não apenas a polarização política, mas também uma batalha ideológica sobre o futuro da Geórgia. De um lado, há aqueles que veem a UE como uma bússola moral e política; do outro, um governo que acusa o Ocidente de impor padrões incompatíveis com as “realidades georgianas”.

Analistas avaliam que a suspensão do processo de adesão é sintomática de um ambiente político interno deteriorado. As eleições parlamentares de 2024, marcadas por acusações de fraude e boicote da oposição, agravaram a crise institucional. Ao mesmo tempo, a crescente influência russa — materializada em leis que limitam organizações da sociedade civil e reprimem direitos LGBTQ+ — suscita dúvidas sobre a direção estratégica do país.

Para Bruxelas, a decisão georgiana pode representar um revés simbólico em sua política de alargamento. A UE enfrenta desafios para manter coesão interna e credibilidade junto a países aspirantes, especialmente em um momento em que a Ucrânia e a Moldávia tentam acelerar seus processos de adesão. A suspensão da Geórgia, além de frustrar aspirações democráticas locais, também expõe o impacto das narrativas antiocidentais promovidas por Moscou, que busca enfraquecer a influência europeia na região.

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