A Finlândia está perto de colocar em operação aquele que tem sido descrito como um "depósito eterno" para parte do lixo nuclear produzido pelo país. Em obras desde 2004, o repositório, batizado de Onkalo (ou "cavidade", em finlandês), receberá os primeiros tonéis com material radioativo no início de 2020.
Onkalo terá uma rede de túneis subterrâneos com algo entre 60 e 70 quilômetros de extensão, ao longo dos quais o lixo nuclear será depositado. A estrutura está sendo construída em Olkiluoto, no oeste da Finlândia, cidade de 34 mil habitantes onde ficam três das cinco usinas nucleares do país.
Os tambores serão depositados no local ao longo dos próximos 100 anos. Ao todo, serão levados 3250 recipientes a Onkalo, com um total de 6500 toneladas de urânio. Para vedar a passagem, o túnel de acesso principal será preenchido com entulho e concreto, e a entrada será lacrada, segundo relato da revista Wired UK.
Perfurado em um substrato rochoso, o depósito foi projetado para resistir a qualquer tipo de catástrofe – natural ou causada pelo homem -, segundo os relatos dos engenheiros envolvidos com o projeto. A estimativa é que o local tenha capacidade de guardar o material radioativo pelos próximos 100 mil anos – e por isso a "eternidade" que muita gente credita a ele.
Guardar lixo nuclear com segurança tem sido um problema em todo o mundo desde a criação das primeiras usinas do gênero. Na maior parte dos casos, o material é mantido em locais provisórios, na superfície. Há alguns depósitos subterrâneos, mas Onkalo se diferencia de todos por ser permanente, geológico (ele usa a imensa rocha que o envolve como uma das várias camadas de segurança de sua estrutura) e projetado para receber material com elevada concentração de radiação.
Para além das questões de segurança que o projeto envolve, ele também desperta uma outra curiosidade: como estará o planeta daqui a 100 mil anos, quando expira o prazo de validade estimado para o depósito finlandês? Afinal, se pensarmos em uma perspectiva histórica, 100 mil anos atrás o Homo sapiens sequer havia chegado à Europa ainda – e, para pensar em algo bastante antigo, como as pirâmides do Egito, a mais velha delas tem somente 4600 anos de existência. O lixo nuclear finlandês será também um testemunho dos nossos tempos para as futuras gerações – isso, claro, se elas vierem a existir.