
A cobertura da imprensa europeia, nesta segunda-feira (28), em relação ao acordo comercial anunciado entre Washington e Bruxelas, dá o exato tom da forma como foram recebidos os termos da negociação.
“Como a UE sucumbiu diante da motoniveladora de Trump”, destacou o jornal inglês Financial Times no título do texto que explicava o processo de negociação. “A UEa tarifa de 15% sobre suas exportações para os EUA”, registrou o jornal espanhol EL País. “Vassalização”, vergonha” e fiasco”, publicou o tradicional Le Figaro na França, citando entrevistados sobre o acordo.
A França, por sinal, foi o país mais crítico em relação ao acordo. O primeiro-ministro François Bayrou definiu o resultado como “ato de submissão” da Europa diante dos Estados Unidos. A primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, que mantém relações cordiais com o atual governo dos EUA, foi discreta e cautelosa. Para ela, a solução é fruto de um trabalho de equipe que “evitou um enfrentamento frontal entre os dois lados do Atlântico”. O chanceler alemão Friedrich Mertz disse que o acordo trará “considerável impacto negativo” para a zona do euro, ainda que venha a “evitar uma escalada desnecessária nas relações de comércio transatlânticas”.
A BBC de Londres indica os “vencedores” e os “perdedores” com o acordo. No primeiro grupo, estariam em primeiro lugar o presidente Donald Trump; além dele, os mercados financeiros internacionais, agora acalmados; os fabricantes de automóveis americanos que terão acesso facilitado ao mercado europeu; os players da área de energia dos Estados Unidos, que receberam a promessa de compra de US$ 750 milhões em produtos e serviços pela União Europeia, que ainda se comprometeu a investir US$ 600 bilhões em outras compras diretas no país, inclusive materiais e equipamentos de uso militar.
Entre os perdedores, segundo a BBC, estariam a indústria farmacêutica e a indústria automobilística europeias, além dos consumidores americanos que pagarão mais pelos produtos europeus.
Destaque ainda mais importante: para a BBC, sai perdendo a “solidariedade europeia”, uma vez que a falta de consenso e reações negativas em vários países não podem ser fatores subestimados e afetarão as relações dentro do bloco daqui para a frente.
VIktor Órban, que lidera uma Hungria que faz parte da UE mas se alinha ao russo Vladimir Putin, não perdeu a oportunidade de alfinetar: “Trump comeu Ursula van der Leyen no café da manhã”.