Uma rede conjunta de energias renováveis poderia ajudar a Europa a alcançar suas metas climáticas, mas a falta de recursos financeiros e de cooperação entre os países da União Europeia (UE) tem dificultado o progresso. A incerteza política após o crescimento da extrema direita nas eleições para o Parlamento Europeu também levanta dúvidas sobre as políticas da próxima Comissão Europeia, especialmente os planos para atingir a neutralidade climática até 2050.
A eletricidade proveniente de fontes renováveis será essencial para atingir esses objetivos climáticos. Regiões específicas do continente são ideais para determinados tipos de produção de energia verde, como a energia eólica no norte e a energia solar no sul. Entretanto, para que toda a Europa se beneficie, é necessário construir uma rede elétrica abrangente que integre essas novas tecnologias.
A comissária de energia da UE, Kadri Simson, destacou em maio que, embora a infraestrutura elétrica europeia esteja bem desenvolvida, é preciso duplicar o consumo de eletricidade e fortalecer a rede para suportar mais energias renováveis. A Europa está apenas na metade do caminho nesse processo.
Harald Bradke, especialista do Instituto Fraunhofer na Alemanha, afirmou que a energia fotovoltaica e a energia eólica se complementam bem, mas é necessário mais armazenamento de energia e linhas de transmissão adicionais. A construção dessas linhas tem sido lenta, especialmente na Alemanha, onde a eletricidade produzida no norte é necessária no sul.
A resistência local à construção de novas torres de transmissão e os altos custos de instalar linhas elétricas subterrâneas são obstáculos significativos. Além disso, a cooperação entre os países europeus é vital, mas disputas sobre quem se beneficiaria mais das novas infraestruturas complicam o cenário.
Estimativas sugerem que seriam necessários 800 bilhões de euros em investimentos na rede elétrica até 2030. A Comissão Europeia apresentou um plano de ação com um custo estimado em 600 bilhões de euros até o final de 2023. Simson argumenta que esses investimentos são justificados, considerando os 600 bilhões de euros que os consumidores europeus gastaram em combustíveis fósseis em 2022.
Investidores privados têm mostrado interesse em financiar projetos de rede elétrica, como a linha elétrica entre a Alemanha e o Reino Unido, mas a precisão na avaliação da necessidade real de infraestrutura é crucial para evitar investimentos desnecessários.
O financiamento da UE para a expansão da rede elétrica provém da vertente digital do Mecanismo Interligar a Europa (MIE Digital), que apoiará e catalisará investimentos públicos e privados em infraestruturas de conectividade digital entre 2021 e 2027. Simson defende o reforço deste fundo no próximo quadro financeiro plurianual da UE, que estará em vigor até 2027. A responsabilidade de futuras políticas energéticas recairá sobre a próxima Comissão Europeia e o recém-eleito Parlamento Europeu.