A Europa está à beira de uma crise de talentos. Com cerca de 75% das empresas do continente relatando dificuldades em contratar trabalhadores qualificados, a falta de mão de obra tornou-se um dos maiores obstáculos para o crescimento econômico sustentável da União Europeia (UE). Esse cenário de escassez, que aumentou 42% em relação a 2018, está impactando fortemente a capacidade das empresas de manterem suas operações e inovarem, evidenciando uma discrepância alarmante entre a oferta de habilidades disponíveis e as necessidades do mercado de trabalho europeu.
Estudos do Eurostat e do ManpowerGroup reforçam o quadro desafiador: aproximadamente 75% dos empregadores em 21 países europeus relataram dificuldades em encontrar profissionais com as competências adequadas em 2023. A escassez de talentos afetou especialmente pequenas e médias empresas (PMEs), das quais 54% indicaram esse problema como um dos mais graves. Em países como Alemanha e Grécia, a situação é ainda mais crítica, com até 82% dos empregadores enfrentando essa barreira.
Em Portugal, a situação segue a mesma tendência. Segundo o ManpowerGroup, 65% dos empregadores relatam dificuldades em preencher vagas com profissionais qualificados, colocando o país entre os cinco com maior escassez de talentos globalmente. Rui Teixeira, gerente da empresa, destaca que a transformação digital acelerada e a evolução das demandas socioambientais estão agravando a crise, exigindo habilidades que o mercado não consegue oferecer na mesma velocidade.
A falta de trabalhadores qualificados está gerando consequências em larga escala. A produtividade das empresas sofre com a escassez de mão de obra, e setores-chave, como o de tecnologia, engenharia, saúde e logística, encontram-se em uma corrida para atrair talentos. De acordo com estimativas do Eurostat, a falta de pessoal qualificado pode diminuir a competitividade das empresas europeias, reduzir as taxas de inovação e atrasar a recuperação econômica pós-pandemia. Pequenas e médias empresas, em particular, estão sendo desproporcionalmente afetadas, já que muitas delas não possuem recursos financeiros para competir com as grandes corporações por talentos escassos.
Além disso, a tensão gerada pela escassez de mão de obra coloca a Europa em uma posição vulnerável diante de outros mercados globais que estão se adaptando mais rapidamente às novas demandas profissionais. Sem uma solução rápida, as empresas da UE podem enfrentar uma estagnação em seu crescimento, o que, em última instância, afeta a economia global.
Caminhos para a recuperação
Diversos países europeus já estão tomando medidas para mitigar essa crise de talentos. Políticas públicas focadas na educação e requalificação de trabalhadores estão sendo implementadas para preparar as futuras gerações para os desafios do mercado digital. Além disso, iniciativas para atrair talentos estrangeiros e facilitar a migração qualificada também estão em andamento em várias nações do bloco, na tentativa de equilibrar a oferta e a demanda de trabalhadores.
No entanto, especialistas apontam que essas soluções a longo prazo precisam ser complementadas com ações imediatas das empresas, que devem investir em treinamento interno e programas de desenvolvimento de habilidades. A colaboração entre governos, empresas e instituições educacionais será fundamental para fechar a lacuna de competências e garantir que a Europa possa continuar competindo no cenário global.