A recente intensificação das políticas industriais na Europa, caracterizada por um aumento significativo dos auxílios estatais, tem gerado debates sobre sua eficácia e a necessidade de uma abordagem coordenada entre os países membros da União Europeia (UE). De acordo com um artigo publicado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em 16 de dezembro de 2024, a eficácia dessas políticas não depende apenas do volume de recursos investidos, mas, sobretudo, de sua alocação estratégica e coordenação supranacional.
Nos últimos dez anos, os gastos com auxílios estatais na UE triplicaram, atingindo 1,5% do PIB, com uma parcela substancial direcionada a tecnologias verdes e eficiência energética. Países como França, Alemanha, Itália e Espanha lideraram esse movimento, refletindo uma tendência crescente de intervenções setoriais destinadas a enfrentar desafios como a fragmentação geopolítica, segurança econômica e transição ecológica.
No entanto, o FMI alerta que políticas industriais mal concebidas ou implementadas de forma unilateral podem resultar em ineficiências e distorções no mercado interno europeu. Intervenções isoladas, como subsídios ou incentivos fiscais concedidos por um país a setores específicos, podem inadvertidamente prejudicar a competitividade de outros membros da UE, minando as vantagens comparativas e criando desequilíbrios econômicos.
Modelos de simulação apresentados pelo FMI indicam que políticas industriais unilaterais tendem a ser contraproducentes para a maioria dos países da UE, especialmente devido à sua abertura comercial. Sem uma coordenação adequada, essas políticas podem desencadear efeitos colaterais negativos que superam os benefícios pretendidos. Além disso, estudos apontam que, embora os auxílios estatais europeus beneficiem as empresas receptoras, frequentemente são prejudiciais a outras, exacerbando as disparidades dentro do bloco.
A solução proposta pelo FMI enfatiza a necessidade de um quadro unificado e coordenado para as políticas industriais na Europa. Quando os países alinham seus esforços, os benefícios dessas políticas podem superar os custos, preservando os ganhos do comércio, assegurando condições equitativas de concorrência e aproveitando plenamente o mercado único da UE. Simulações demonstram que uma abordagem integrada resulta em resultados superiores em comparação com estratégias fragmentadas e específicas de cada país.
Para construir um arcabouço mais eficaz, o FMI sugere aprimorar o compartilhamento de dados e a unificação de programas, visando aumentar a transparência e a confiança entre os Estados membros. A criação de um órgão centralizado de tomada de decisões poderia otimizar prioridades e alocar recursos de maneira mais eficiente em áreas de benefício mútuo. A experiência bem-sucedida da Airbus, fruto de uma iniciativa colaborativa multinacional, exemplifica como a coordenação em larga escala pode funcionar, servindo de modelo para potencializar as transições verde e tecnológica da Europa.
Além disso, uma integração mais profunda, com um mercado único fortalecido para bens, serviços e capital, aliada a uma maior mobilidade laboral, amplificaria a eficácia das políticas industriais, permitindo que as empresas expandam suas operações. Um orçamento ambicioso da UE ou uma capacidade fiscal centralizada poderiam, ainda, apoiar prioridades compartilhadas, reforçando a solidariedade e a coesão dentro do bloco.