Epidemias abalam a confiança dos jovens na política

11 de março de 2025 3 minutos
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A relação entre juventude e política sempre oscilou entre a esperança na mudança e o ceticismo em relação às instituições. No entanto, crises profundas como epidemias parecem acelerar essa transição para o desencanto. Há exatos cinco anos, em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarava a Covid-19 uma pandemia global. Desde então, o mundo não apenas enfrentou uma emergência sanitária sem precedentes, mas também assistiu a transformações políticas significativas.

Um estudo da London School of Economics (LSE), citado pelo Le Monde, revela que epidemias deixam uma “cicatriz política” duradoura: jovens que enfrentaram surtos de doenças durante sua formação demonstram menor confiança em seus governantes e nos processos eleitorais. Esse fenômeno, observado em diferentes partes do mundo, pode estar na raiz da ascensão de movimentos populistas.

A pesquisa, conduzida por Cevat G. Aksoy, Barry Eichengreen e Orkun Saka, analisou 750 mil pessoas em 142 países e constatou que indivíduos expostos a epidemias na juventude tendem a desconfiar mais de seus representantes políticos e a se afastar da política institucional. A Covid-19, a crise sanitária mais impactante do século XXI, parece ter reforçado essa tendência, ao expor falhas na gestão pública, comunicação contraditória e desigualdades estruturais.

Da frustração à radicalização política

Se o afastamento das urnas já era um fenômeno notável entre os mais jovens, a Covid-19 parece ter acelerado essa desconexão. Como destaca o Le Monde, o estudo da LSE sugere que jovens expostos a crises sanitárias não apenas perdem a confiança na democracia tradicional, mas também buscam alternativas para expressar sua insatisfação. A pesquisa aponta que, enquanto a participação eleitoral diminui, há um aumento na adesão a boicotes, greves e manifestações.

Essa transformação tem consequências diretas nas dinâmicas políticas. Nos Estados Unidos, a “geração Covid” parece ter mudado seu padrão de voto: Donald Trump perdeu para Hillary Clinton por 18 pontos entre os eleitores de 18 a 29 anos em 2016; contra Joe Biden, em 2020, a diferença foi ainda maior, de 24 pontos. Em 2024, no entanto, Kamala Harris liderou essa faixa etária sobre Trump por apenas 4 pontos. Isso sugere que uma nova geração, marcada pelo ceticismo, pode estar migrando para um espectro político mais conservador.

O fenômeno não se restringe aos EUA. Na França, Marine Le Pen e o Reagrupamento Nacional têm conquistado mais jovens do que em ciclos eleitorais anteriores. Na Itália, a ascensão de Giorgia Meloni seguiu um padrão semelhante. No Brasil, pesquisas do Datafolha indicaram um aumento do apoio de jovens a Jair Bolsonaro em 2022, especialmente entre aqueles que se desiludiram com a condução da pandemia e o impacto econômico das medidas restritivas.

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