Energia solar redefine o futuro energético da Europa

20 de março de 2025 6 minutos
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A Europa está passando por uma importante transformação energética, com a energia solar assumindo um papel central na matriz elétrica do continente. Em 2024, pela primeira vez, a União Europeia gerou mais eletricidade a partir do sol do que do carvão – um marco simbólico e estratégico na transição para fontes renováveis.

O crescimento exponencial da energia solar na Europa é impulsionado pelas políticas da União Europeia, que estabeleceu a meta de neutralidade climática até 2050. A crise energética desencadeada pela invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022 acelerou essa transição, levando o bloco a adotar uma estratégia de “implantação rápida e massiva de energia renovável” para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis russos. Segundo a Comissão Europeia, “a energia solar será o ponto principal desse esforço”.

Nos últimos anos, a capacidade solar instalada na Europa cresceu exponencialmente, alcançando 183,55 GW em 2021, um avanço de 14,35% em relação ao ano anterior. No entanto, 2024 trouxe sinais de desaceleração, com um crescimento de apenas 4% – bem abaixo dos aumentos de dois dígitos registrados anteriormente. Apesar do recorde de 65,5 GW instalados, desafios estruturais, como redes elétricas desatualizadas e demora na conexão de novos projetos à rede, geram incertezas sobre a capacidade da União Europeia de cumprir suas metas de energia renovável para 2030.

A DW, em parceria com a European Data Journalism Network, analisou como diferentes governos europeus estão apoiando a expansão da energia solar. Segundo a pesquisa, a Holanda lidera o ranking de capacidade solar instalada per capita, com 1,4 kW por habitante, seguida de perto pela Alemanha, com 1,2 kW.

Além disso, a modernização da infraestrutura energética será determinante para o futuro da energia solar no continente. A Estratégia de Energia Solar da UE destaca a necessidade de expandir e atualizar as redes elétricas para lidar com o aumento das fontes de energia descentralizadas, incluindo sistemas fotovoltaicos de pequeno porte em residências e comércios. O crescimento da capacidade solar precisa ser acompanhado por soluções eficazes de armazenamento, garantindo a estabilidade da rede e evitando desperdício de eletricidade em momentos de baixa demanda.

A revolução das “usinas de varanda” e o impacto residencial

Diante dos desafios, o setor residencial europeu vem encontrando novas soluções para democratizar o acesso à energia solar. Na Alemanha, os chamados Balkonkraftwerk – ou “usinas de varanda” – vêm se tornando uma alternativa popular para quem vive em apartamentos. Esses kits fotovoltaicos plug-and-play permitem que moradores gerem eletricidade própria ao conectar pequenos painéis solares diretamente à rede doméstica. Com um investimento entre €400 e €800, é possível reduzir a conta de luz em até 30%, com retorno financeiro estimado em três anos.

A energia solar residencial já representa um quarto de toda a capacidade instalada na UE. Segundo estudo da Solar Power Europe, residências na Alemanha, Itália e Espanha que adotaram painéis solares podem economizar mais de €1.000 por ano em suas contas de energia. Entretanto, os custos iniciais de instalação ainda são um obstáculo para famílias de baixa renda.

Para tornar a energia solar mais acessível, vários países europeus oferecem subsídios e isenções fiscais. Nove países, incluindo a Alemanha, reduziram o IVA sobre a venda e instalação de painéis solares. A Hungria cobre até dois terços do custo dos sistemas solares para proprietários que investem em armazenamento de energia, enquanto a Suécia oferece um desconto direto de 20% sem burocracia. Algumas cidades, como Bonn, na Alemanha, têm programas locais de incentivo que cobrem até metade dos custos de pequenas instalações residenciais.

No entanto, a complexidade dos processos de solicitação pode ser um entrave. Na Espanha, menos da metade dos subsídios solares aprovados foram pagos após dois anos, devido a exigências burocráticas e atrasos administrativos.

Impactos econômicos e geopolíticos da transição energética

A rápida adoção da energia solar na Europa vai além da questão ambiental e se torna um instrumento estratégico de independência energética. Desde 2019, a redução no uso de combustíveis fósseis permitiu à União Europeia economizar cerca de €59 bilhões em importações de energia, reduzindo a dependência de fornecedores externos. Esse movimento não apenas mitiga os efeitos da crise climática, mas também impulsiona o crescimento econômico, gera empregos locais e fortalece a segurança energética da região.

Além disso, a indústria solar europeia já emprega mais de 800.000 pessoas, principalmente em instalações e manutenção, destacando-se como um setor econômico em expansão. Empresas privadas também estão investindo no setor, como a fabricante de autopeças Snop, que instalou mais de 9.200 painéis solares em unidades na França, Espanha e Alemanha, um projeto capaz de gerar 4,6 GWh por ano – o suficiente para abastecer 1.400 residências e evitar a emissão de 3.400 toneladas de CO₂.

Apesar dos desafios, a Solar Power Europe prevê que a capacidade solar da UE dobrará novamente antes de 2030. A expansão dependerá não apenas de subsídios governamentais, mas também de melhorias na infraestrutura, incluindo redes elétricas modernizadas e soluções de armazenamento de energia mais eficientes.

A modernização da infraestrutura elétrica será crucial para garantir que a geração de energia solar continue crescendo sem comprometer a estabilidade da rede. Isso envolve investimentos na digitalização do sistema elétrico, na capacitação de profissionais para instalação e manutenção de sistemas solares e no desenvolvimento de tecnologias que permitam a integração eficiente da energia renovável à matriz energética europeia.

O sucesso dessa transição energética exigirá esforços coordenados entre governos, setor privado e consumidores. Se mantiver o ritmo atual de inovação e investimento, a Europa não apenas atingirá suas metas climáticas, mas também consolidará sua posição como líder global na geração de energia limpa.

 

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