
A Dinamarca anunciou um investimento histórico de 58 bilhões de coroas dinamarquesas (cerca de €7,71 bilhões), definido pelo governo como “o maior da história do país em defesa”. O plano envolve a aquisição de oito baterias de sistemas terrestres de defesa aérea, parte de uma reconfiguração estratégica motivada pela guerra da Rússia contra a Ucrânia e por incidentes recentes de violação de espaço aéreo na Polônia.
“A experiência da Ucrânia mostra que a defesa aérea terrestre desempenha um papel crucial para proteger a população civil contra-ataques vindos do ar”, afirmou o ministro da Defesa, Troels Lund Poulsen.
O pacote inclui a compra de oito baterias divididas em duas categorias:
- Alcance longo: já definido pelo governo, será o sistema franco-italiano SAMP/T NG, desenvolvido pela joint venture Eurosam (MBDA França e Itália, Thales). Considerado mais competitivo que o Patriot norte-americano, sobretudo em custo e prazos de entrega.
- Alcance médio: ainda em avaliação, entre o NASAMS norueguês (em parceria com a Raytheon), o IRIS-T alemão e o VL MICA francês.
O governo não divulgou a proporção exata de cada categoria, mas anunciou que a primeira bateria estará operacional ainda este ano, com as demais entrando em serviço gradualmente.
Tensão no leste europeu
O anúncio segue-se ao episódio em que a Polônia derrubou drones russos que violaram seu espaço aéreo, um ataque sem precedentes que levou Varsóvia a acionar o Artigo 4 da OTAN, convocando consultas entre aliados.
Com 2,37% do PIB destinados à defesa em 2024, a Dinamarca já figurava entre os países que mais investem no setor em termos proporcionais. A nova aquisição alinha o país às metas de 3,5% do PIB até 2035, definidas pelos líderes da aliança atlântica.
A preferência por sistemas produzidos na Europa reflete uma tendência cada vez mais clara de reduzir a dependência tecnológica em relação aos Estados Unidos. O gesto fortalece o discurso de soberania estratégica e contribui para a integração industrial europeia no campo da defesa.
Entre os principais desafios e riscos estão a necessidade de assegurar a integração técnica dos novos sistemas, garantindo sua plena interoperabilidade com radares e protocolos da OTAN; a capacidade industrial de cumprir prazos de entrega em meio a gargalos globais de semicondutores e componentes críticos; e, por fim, a sustentabilidade fiscal, já que ampliar os gastos militares para patamares próximos de 3% do PIB pode gerar pressões significativas sobre áreas sociais e de infraestrutura.
Comparativos europeus:
- Polônia: gasta 4,2%–4,7% do PIB em defesa, tendo captado €43,7 bilhões do programa europeu SAFE para modernização militar.
- Alemanha: pretende elevar gastos de €95 bilhões em 2025 para €162 bilhões até 2029, atingindo 3,5% do PIB.
- Suécia: já destina 2,4%–2,7% do PIB, com meta de 3,5% até 2030.
- Lituânia: projeta chegar a 5%–6% do PIB a partir de 2026, diante da pressão geopolítica da Rússia.
- Espanha: ainda em 1,3% do PIB, lançou plano de €10 bilhões para alcançar a meta mínima da aliança, de 2%.
Se as entregas ocorrerem nos prazos anunciados e os sistemas forem plenamente integrados à arquitetura da OTAN, a Dinamarca poderá consolidar-se como modelo de prontidão no norte da Europa. Ao custo de quase €8 bilhões, a escolha de Copenhague carrega riscos fiscais, mas pode se mostrar decisiva para reposicionar o equilíbrio da segurança no continente.