Aquecimento global pode ameaçar culinária europeia

Ciro Dias Reis, CEO da Imagem Corporativa 24 de abril de 2024 3 minutos
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Tradicionais práticas culinárias de diferentes países europeus estão sob ameaça devido ao aquecimento global.

Exagero? Não, segundo relatório científico conjunto do Institute for  European Environment Policy (IEEP) e pela France Nature Environnement (FNE) que acaba de ser divulgado e que defende medidas de emergência para inverter a atual trajetória.

Seus autores mostram que o aumento das temperaturas, as secas, fortes chuvas e incêndios florestais que vêm atingindo o continente, além de práticas agrícolas não-sustentáveis, já estão levando ao declínio na produção das principais culturas que permitem aos franceses e italianos, por exemplo, consumirem suas baguetes e espaguetes sem preocupação.

“Nos últimos anos, a produção da UE de muitos itens agrícolas importantes caiu drasticamente devido a secas generalizadas e outras condições meteorológicas adversas. Sem medidas para mitigar e se adaptar aos impactos climáticos, os agricultores poderão ser forçados a mudar para culturas alternativas”, aponta o relatório. “A longo prazo, isto poderá não só mudar o que e como cultivamos em algumas regiões da Europa, mas também remodelar as nossas cozinhas nacionais”, acrescenta.

A Política Agrícola Comum (PAC) da União Europeia exige (e oferece compensações por isso) a adoção de práticas agrícolas mais sustentáveis por meio de normas como a Good Agricultural and Environmental Conditions (BCAA), que sugere, por exemplo, a rotatividade de culturas nas áreas de plantio visando poupar o uso do solo.

A guerra na Ucrânia, no entanto, fez o países membros da EU flexibilizarem aqueles requisitos em nome de garantir a  segurança alimentar na região. Desde o início de 2023, uma grande onda de protestos por parte de organizações agrícolas de vários países, como França e Bélgica, levou a Comissão Europeia a repensar algumas normas visando diminuir a pressão de produtores. Estes afirmam que as exigências ambientais se tornaram um fardo pesado demais, principalmente devido a um fenômeno que a região há muito não via: a inflação.

O aumento de preços chegou a superar os 11% na zona do euro no final de 2022, e embora venha caindo gradativamente ainda incomoda. E a taxa de juros continua em 4,5% patamar alto se considerado o histórico dos últimos 10 anos.

Os autores do estudo realizado pelo IEEP e pela FNE estavam particularmente interessados ​​na produção de azeitonas, batatas e trigo em França, na Polônia, Espanha, Itália e Alemanha. Eles salientam que as práticas agrícolas convencionais “tornam-nas mais vulneráveis” porque “enfraquecem aspectos do ecossistema que de outra forma poderiam servir de amortecedor contra estes riscos”.

Baseado em dados de 144 estudos diferentes, o relatório mostra que as condições de seca levam a um declínio de 20,6% na produção de trigo. Na França, por exemplo, em um 2016 marcado por más condições meteorológicas, a colheita foi 27% menor e levou a uma perda de mais de 2 bilhões de euros na balança comercial do país.

Em 2022, outro ano de seca histórica, a colheita de azeitona nos países da UE foi a mais fraca desde o ano 2000, relata o documento: houve uma quebra na produção de 4,6 milhões de toneladas em comparação com 2021. Outro exemplo destaca que, embora o aumento do CO2 na atmosfera possa impulsionar o crescimento da batata, as altas temperaturas poderão levar a perdas de produtividade entre 18% e 32% nos próximos 45 anos.

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