Na Finlândia, um dos países mais inovadores do mundo, criar uma startup de sucesso às vezes exige um toque de insanidade. Isso vale em pelo menos um caso: o dos empreendedores que entram no Polar Bear Pitching, uma competição em que os participantes apresentam seus projetos mergulhados nas águas geladas do Mar Báltico.
O concurso é realizado na Universidade de Oulu, a principal cidade do extremo norte do país, que fica a pouco mais de uma hora de carro do Círculo Polar Ártico. Já são sete anos de competição – a edição de 2019 foi realizada na terça e quarta-feira desta semana (12 e 13/3). Não se trata de tempo debaixo d'água, mas do conteúdo, que é avaliado por um grupo de jurados (uma das apresentações deste ano, aliás, durou quase cinco minutos, um recorde na história da competição).
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"É uma sensação terrível. Parece que você recebe um soco na cara de dez caras realmente fortes", disse ao site Euronews Lasse Brurok, que levou para casa seu prêmio de € 10 mil junto com seu sócio Arne-Morten Willumsen. A energia e o humor da dupla norueguesa – que criou a Bookis, uma plataforma para comercialização de livros usados – conquistaram os jurados.
O Polar Bear Pitching surgiu da cabeça de Mia Kemppaala, que naquele tempo trabalhava na Business Kitchen, uma espécie de incubadora de startups da Universidade de Oulu. A cidade passava por um período de dificuldade econômica, já que sua maior empregadora, a Nokia, estava fazendo demissões em massa após a venda de seu controle para a Microsoft.
Autoproclamada Capital do Norte da Escandinávia, Oulu tem cerca de 250 mil habitantes. Na época, ninguém tinha certeza se sua economia resistiria ao golpe. "Foi um período de muito pessimismo", disse Mia ao site VentureBeat. "Mas quando as coisas estão difíceis na Finlândia, as pessoas realmente se unem."
Há uma palavra finlandesa, "sisu", que resume a cultura da perseverança diante das dificuldades. Segundo sua idealizadora, o Polar Bear Pitching nasceu por causa do sisu. Mia conta que começou a pensar em como poderia promover os outros diferenciais tecnológicos da região, algo que aliasse a reputação de humor malicioso dos moradores e, ao mesmo tempo, ajudasse as startups de Oulu.
Ela conta que, embora os empreendedores locais parecessem ter grandes ideias, eles não eram muito bons em vendê-las. Quando lhe ocorreu misturar o costume local de tomar banhos gelados, o conceito do concurso começou a ganhar forma. Que melhor maneira de fazer alguém se concentrar em sua apresentação e mostrar que pode lidar com dificuldades do que mergulhá-la em água quase congelante?
"Isso é ótimo em Oulu", disse Mia. "Quando você tem uma ideia maluca como essa, as pessoas abraçam." E o abraço está indo cada vez mais longe: neste ano, além de finlandeses, a competição teve participantes de países como Estados Unidos, Quênia e Estônia.