
Enfim o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul está pronto para dar o próximo passo para a ratificação interna do bloco europeu. Fontes de dentro da Comissão Europeia indicam que o documento deverá ser entregue oficialmente pelo executivo europeu dentro de duas semanas. Isso depois de sete meses de fermentação na etapa mais burocrática do processo, de revisão legal e tradução. Agora a proposta atravessa a Rue de la Loi em Bruxelas, para uma dura batalha no Edifício Europa, sede do Conselho Europeu.
Na semana passada o Conselho, órgão que reúne os chefes de estado dos 27 países da UE, esteve reunido na capital belga. Apesar de não constar oficialmente na pauta, depois do encontro jornalistas ouviram do chanceler alemão Friedrich Merz que os estados-membros estão unidos para concluir a parceria com o Mercosul e que agora restam apenas pequenas diferenças para um consenso. Merz também contou que conversou duas vezes com o presidente francês Emmanuel Macron sobre o tema e disse ter percebido uma grande disposição da França em concluir o pacto. Todavia, publicamente Macron segue relutante: afirmou que, da forma como está, o texto é inaceitável para a França, posição já conhecida e reafirmada por ele inclusive durante a visita de Lula ao Eliseu.
Esse impasse reacendeu uma alternativa que já vinha sendo debatida nos bastidores: dividir o tratado. A ideia é separar a parte comercial, que trata de tarifas, exportações e importações, da parte política e ambiental. Isso permitiria que o texto passasse pelo Conselho sem a necessidade de uma aprovação unânime, reduzindo as chances de o acordo ser barrado por pressões locais, como as da França. Se a divisão for levada adiante, a seção comercial poderia entrar em vigência provisoriamente logo após a aprovação pelo Parlamento Europeu. No legislativo, o texto passará por comissões especializadas antes de seguir para votação em plenário, onde avança por maioria simples. O acordo como um todo ainda precisa ser votado pelos parlamentos nacionais de cada membro da UE. Este último passo pode até dar um frio na espinha aos apoiadores do pacto, já que se espera que países como França e Polônia barrem o texto. Mas, segundo funcionários da Comissão Europeia, se de fato o acordo for dividido, o bloqueio de um congresso não será suficiente para por tudo pôr água abaixo, mantendo-se então vigente o aspecto comercial do tratado.
Vale lembrar que o Brasil assume, agora em julho, a presidência temporária do Mercosul. O presidente Lula já deixou claro que pretende encerrar seu mandato no comando do bloco com esse acordo assinado. A pressão do lado sul do Atlântico é grande desde o anúncio emblemático de 6 de dezembro em Montevidéu, que oficializou o fim das negociações. Por enquanto, a aposta da Comissão Europeia é manter o forno aceso, buscar apoio político interno e, se necessário, fatiar o pão para a melhor digestão.