
Com a chegada do período de festas de fim de ano e férias, milhões de pessoas se preparam para viajar pela Europa. Mas 2025 trouxe mudanças significativas nas regras de entrada e permanência no continente, e conhecer essas novas regulamentações se tornou essencial para evitar transtornos, atrasos e custos inesperados durante a viagem.
O ano marca uma transformação profunda na gestão de fronteiras e turismo na Europa, com a implementação de sistemas digitais de controle, elevação de taxas turísticas e medidas mais rígidas contra o chamado “turismo de massas”. As mudanças refletem uma busca por equilíbrio entre segurança, sustentabilidade e a qualidade de vida dos residentes locais.
Sistema biométrico substitui carimbo no passaporte
A principal novidade é o Sistema de Entrada e Saída da União Europeia (EES), lançado em 12 de outubro de 2025. O sistema está sendo implementado em fases e deve estar totalmente operacional até 10 de abril de 2026.
Viajantes de países terceiros que cruzam as fronteiras externas do espaço Schengen agora precisam fornecer dados biométricos – incluindo impressões digitais e imagem facial – além das informações do passaporte. A medida substitui o tradicional carimbo e abrange todos os países da União Europeia, exceto Irlanda e Chipre, além de Islândia, Noruega, Suíça e Liechtenstein.
O objetivo declarado é identificar quem excede o período de permanência permitido e combater a migração ilegal. Problemas técnicos, no entanto, têm causado atrasos. O lançamento previsto para novembro no Porto de Dover, importante ponto de entrada no Reino Unido, foi adiado para 2026 especificamente para passageiros de automóveis, evitando o caos durante as viagens de Natal.
Viajantes devem se preparar para possíveis demoras em pontos de entrada enquanto os países ajustam seus sistemas. Apesar dos contratempos iniciais, a promessa é que o processo se torne mais ágil a médio prazo.
ETIAS e autorização britânica entram em vigor em 2026
O Sistema Europeu de Informação e Autorização de Viagem (ETIAS), inicialmente previsto para 2025, foi adiado para o final de 2026. Quando implementado, obrigará turistas isentos de visto de determinados países a obter uma autorização online antes de entrarem no Espaço Schengen, com custo de 20 euros para a maioria dos viajantes.
A autorização permitirá estadias de até 90 dias em cada período de 180 dias e terá validade de três anos. O sistema funciona de forma semelhante ao ESTA dos Estados Unidos ou ao eTA do Canadá.
Paralelamente, o Reino Unido implementará de forma estrita, a partir de fevereiro de 2026, sua Autorização Eletrônica de Viagem (ETA). Turistas de 85 países atualmente isentos de visto precisarão solicitar a permissão digital para estadias curtas, ao custo de 16 libras (cerca de 18,20 euros), válida por dois anos para permanências de até seis meses.
Além das autorizações digitais e da inflação, os custos de viagem na Europa aumentaram consideravelmente em 2025 devido a taxas turísticas e restrições ao alojamento de curta duração.
Paris, Barcelona e outras cidades anunciaram restrições ao Airbnb e plataformas similares, principalmente para combater o aumento dos aluguéis residenciais em áreas turísticas. A medida reduziu a disponibilidade de acomodações econômicas.
Diversos países introduziram ou elevaram taxas turísticas por noite, incluindo Islândia, Espanha, Noruega e Reino Unido. Veneza mantém sua taxa para visitantes de um dia, que varia de 5 euros para reservas antecipadas a 10 euros para chegadas de última hora, com multas de até 300 euros para quem for pego sem comprovante de pagamento.
Em Barcelona, uma sobretaxa de 4 euros por noite foi introduzida no final de 2024, e a partir de julho de 2025, mais 5 euros serão adicionados, elevando as taxas totais para entre 10 e 15 euros por noite, dependendo do tipo de acomodação. Até 2029, essas taxas devem continuar subindo, potencialmente tornando Barcelona a cidade mais cara da Europa em termos de impostos sobre acomodação.
Essas medidas refletem uma mudança estratégica em direção ao que é chamado de “turismo de qualidade”: atrair menos visitantes, mais sustentáveis e com maior capacidade de gasto, em vez de promover o turismo de massas com orçamento reduzido.
Os praticantes de esportes de neve também foram afetados. Passes de esqui na Suíça, Áustria e Itália subiram até 40% em comparação com 2021 em algumas estações, devido ao aumento dos custos de energia e manutenção.
Cidades europeias endurecem regras de comportamento
Além de encarecer viagens, novas regras visam especificamente coibir comportamentos considerados inadequados por parte dos turistas.
San Sebastián é a mais recente cidade espanhola a proibir fumar nas praias, enquanto Albufeira, no Algarve português, começou a aplicar multas para turistas com pouca roupa em áreas públicas. Palma, na Espanha, baniu barcos de festa que causavam poluição sonora e perturbavam a infraestrutura local.
Na França, o endurecimento dos controles começa antes mesmo da chegada dos turistas. Desde o mês passado, passageiros aéreos que descumprirem regras ou causarem perturbações em voos podem enfrentar multas de até 20 mil euros e proibições de embarque por até quatro anos.
Circulam expectativas sobre um possível aperto às práticas de cobrança das companhias aéreas de baixo custo, especialmente em relação a taxas de bagagem de mão e compensações por atrasos de voo.
Uma lei da União Europeia para melhorar os direitos dos passageiros aéreos está em discussão há 11 anos, mas enfrenta forte resistência da indústria da aviação, que argumenta que as mudanças resultarão inevitavelmente em aumentos nos preços dos bilhetes. Alguns estados-membros chegaram a defender a redução dos direitos, propondo elevar de três para quatro horas o limiar para compensação por atrasos.
Sem consenso em 2025, as conversas de mediação devem continuar até o início de 2026.
A decisão recente da companhia aérea de baixo custo Ryanair de deixar de aceitar cartões de embarque em papel também gerou controvérsia. Portugal alertou que a medida pode violar os direitos dos passageiros aéreos, e a autoridade de aviação do país advertiu a empresa de que não pode recusar passageiros que embarquem com cartões de embarque físicos.
Perspectivas para 2026
As mudanças de 2025 representam apenas o início de uma transformação mais ampla na forma como a Europa gerencia o turismo. Com a plena implementação do EES e o lançamento do ETIAS previstos para 2026, os viajantes devem se preparar para um processo de entrada mais estruturado e digitalizado.
A tendência é que mais cidades adotem medidas semelhantes de gestão turística nos próximos anos, buscando encontrar um ponto de equilíbrio entre a importância econômica do turismo e a preservação da qualidade de vida dos residentes locais.
Para quem planeja viajar pela Europa em 2026, a recomendação é acompanhar de perto as atualizações dos requisitos de entrada, reservar acomodações com antecedência considerando as novas taxas, e estar preparado para processos de controle de fronteira mais demorados durante o período de adaptação aos novos sistemas.






