Ambientalistas pedem suspensão imediata de novas incineradoras na UE

Sam Maryama, consultor em sustentabilidade do European Way 09 de outubro de 2025 3 minutos
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A pressão sobre a União Europeia para rever sua dependência da incineração de resíduos está aumentando. Uma coligação de 156 organizações da sociedade civil, lideradas pela Zero Waste Europe, enviou uma carta à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pedindo uma moratória imediata à construção de novas incineradoras e um plano para reduzir gradualmente as que já existem. O movimento reacende o debate sobre o papel desse tipo de infraestrutura em uma região que pretende atingir a neutralidade climática até 2050.

A exigência surge em um momento de revisão das metas climáticas e de maior atenção aos impactos ambientais da gestão de resíduos. As organizações signatárias, entre elas Amigos da Terra, ClientEarth e o European Environmental Bureau, afirmam que a incineração é incompatível com o Pacto Ecológico Europeu, pois gera emissões de carbono que, em alguns casos, superam as de fontes fósseis tradicionais.

O alerta parte de um dado preocupante. O alto volume de plásticos nos resíduos urbanos faz com que as incineradoras, apresentadas há décadas como alternativas limpas, estejam se tornando fontes relevantes de gases de efeito estufa. Estudos recentes indicam que, por tonelada de lixo queimado, a liberação de dióxido de carbono pode ser equivalente ou até superior à de usinas movidas a carvão. “A construção de novas incineradoras comprometeria a Europa a décadas de emissões desnecessárias”, afirmou Janek Vahk, diretor de políticas de poluição zero da Zero Waste Europe.

Além do argumento climático, a carta cita riscos diretos à saúde pública. Comunidades próximas a incineradoras relatam efeitos adversos associados à exposição prolongada a dioxinas, PFAS e metais pesados, poluentes ligados a cânceres, distúrbios endócrinos e imunológicos. Segundo as organizações, esses impactos afetam de forma desproporcional regiões periféricas e populações vulneráveis, o que contraria o princípio de transição justa defendido pela Comissão Europeia.

O grupo pede ainda a reorientação dos fundos públicos hoje destinados à incineração para alternativas de economia circular, como sistemas de reutilização, compostagem e reciclagem avançada. A coligação argumenta que essas soluções poderiam gerar mais empregos locais e reduzir a dependência de matérias-primas importadas, um ponto de atenção crescente após a guerra na Ucrânia e a crise energética de 2022.

A resistência de países com tradição na queima de resíduos

Os defensores da incineração sustentam que as instalações modernas, com sistemas de filtragem e recuperação energética, continuam necessárias para lidar com o volume de resíduos não recicláveis. Críticos, porém, afirmam que esse modelo perpetua um ciclo de dependência e reduz o incentivo à redução e ao reaproveitamento de materiais.

Países como Dinamarca e Suécia, que há anos são vistos como líderes em gestão de resíduos, enfrentam agora um impasse. Suas redes de incineradoras, que abastecem sistemas de aquecimento urbano, estão se tornando obstáculos à descarbonização. Cidades como Copenhague enfrentam pressão crescente para revisar planos de expansão dessas usinas, em meio à meta de alcançar neutralidade climática até 2030.

A carta da Zero Waste Europe é também um teste político para a Comissão Europeia. O bloco poderá manter o discurso de liderança ambiental enquanto continua a autorizar novas incineradoras? Com as metas climáticas para 2040 em fase de definição, a resposta a essa pergunta pode determinar o rumo das políticas ambientais europeias na próxima década.

 

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