4% da população urbana europeia vive exposta à poluição acima do recomendado pela OMS

10 de abril de 2025 3 minutos
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Um novo estudo publicado pela European Public Health Alliance (EPHA) revela uma realidade alarmante: 94% da população urbana da Europa está exposta a níveis de poluição do ar superiores aos limites recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A constatação coloca em xeque a eficácia das políticas ambientais vigentes no continente e acende um alerta vermelho para governos, empresas e cidadãos.

A análise, baseada em dados de mais de 1.400 estações de monitoramento espalhadas por todo o continente e cruzada com os parâmetros da Agência Europeia do Ambiente (AEA) e da OMS, identificou que a concentração de partículas finas (PM2.5) no ar é o principal fator de risco. Estas partículas, invisíveis a olho nu, penetram profundamente nos pulmões e na corrente sanguínea, provocando doenças respiratórias, cardiovasculares e neurológicas – além de estar associadas a uma redução significativa na expectativa de vida.

Embora as legislações ambientais europeias tenham avançado nas últimas décadas, o estudo indica que apenas 6% da população urbana respira ar dentro dos padrões considerados seguros pela OMS. O dado contrasta fortemente com a percepção de que a Europa seria um continente em conformidade com metas ambientais globais.

Os hotspots da poluição

Entre os países mais afetados estão Polônia, Itália e Alemanha, com regiões industriais e urbanas apresentando índices de PM2.5 consistentemente acima dos níveis recomendados. Em muitas dessas localidades, os níveis de poluição ultrapassam duas a três vezes os limites estabelecidos pela OMS após sua atualização em 2021.

Chama a atenção o fato de que até mesmo áreas consideradas menos industrializadas ou mais “verdes” não estão isentas do problema. O estudo evidencia que o transporte rodoviário, a queima de biomassa para aquecimento e processos industriais de pequeno porte continuam sendo fontes críticas de emissão de poluentes.

A pesquisa também evidencia um ponto de tensão: os limites legais de poluição adotados por muitos países da União Europeia ainda estão menos rigorosos do que os recomendados pela OMS. Isso significa que, mesmo onde não há infrações legais, a saúde pública pode estar seriamente comprometida.

Especialistas ouvidos pelo relatório sugerem que a União Europeia precisa alinhar suas metas e diretrizes com as recomendações mais recentes da OMS, ao mesmo tempo em que fortalece mecanismos de fiscalização, incentiva o uso de transporte público e acelera a transição energética.

“A poluição do ar não é apenas um desafio ambiental — ela é, acima de tudo, um problema de saúde pública e justiça social”, afirma Sascha Marschang, secretário-geral interino da EPHA. Segundo ele, as populações mais pobres, crianças e idosos são desproporcionalmente afetados pelos efeitos da poluição atmosférica.

A estimativa da OMS é de que a poluição do ar cause cerca de 300 mil mortes prematuras por ano na Europa. O impacto econômico indireto, associado ao aumento de internações hospitalares e à perda de produtividade, também é gigantesco.

Com a COP30 marcada para 2025 em Belém (Brasil), espera-se que a qualidade do ar urbano volte ao centro das discussões climáticas. A situação europeia pode servir tanto de alerta quanto de exemplo: mostra o quanto ainda é preciso avançar mesmo em regiões que, historicamente, lideram a agenda ambiental global.

A EPHA defende ações coordenadas em nível europeu — e pressiona por maior ambição política. Para os formuladores de políticas públicas, o recado é claro: sem ar limpo, não há saúde, bem-estar nem futuro sustentável.

 

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