Vinho encalha na Europa com queda no consumo

11 de outubro de 2024 4 minutos
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A Europa, historicamente reconhecida como berço mundial do vinho, enfrenta uma das maiores crises do setor em décadas. Com o consumo de vinho em declínio acentuado, tanto no mercado interno quanto nas exportações, o excesso de produção tem se tornado um problema alarmante, resultando em medidas drásticas por parte da União Europeia. A situação atingiu tal gravidade que a Comissão Europeia anunciou um pacote de 120 milhões de euros (R$ 719 milhões) destinado à destruição de vinhedos na França, a maior produtora mundial da bebida. A decisão, parte de um esforço para controlar os estoques e evitar a desvalorização do vinho, sinaliza o impacto profundo que a crise tem gerado em um dos setores mais emblemáticos do continente.

Segundo dados da Comissão Europeia, o europeu médio bebia cerca de 30 litros de vinho por ano em 2005. Porém, com a diminuição progressiva do consumo, essa média deve cair para pouco mais de 20 litros até 2025. Uma das razões para essa mudança é o comportamento das gerações mais jovens. Pesquisas mostram que os jovens estão se afastando do consumo regular de vinho e, em muitos casos, evitando o álcool por completo.

Um estudo realizado pela Sowine, com base em dados de 2024, revelou que o grupo de consumidores entre 26 e 35 anos é o que mais demonstra um desinteresse pelo vinho, contribuindo significativamente para a retração nas vendas. Isso reflete uma transformação cultural que desafia o setor: enquanto os mais velhos mantêm o hábito de apreciar a bebida, os jovens buscam alternativas mais saudáveis e sustentáveis, como coquetéis não alcoólicos, cervejas artesanais e bebidas funcionais. Esse fenômeno está transformando o mercado de bebidas na Europa, tradicionalmente dominado pelos vinhos.

Além do declínio no consumo interno, o mercado de exportação de vinhos da União Europeia também sofreu uma queda considerável. Entre janeiro e abril de 2023, as exportações caíram 8,5% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados da Comissão Europeia. A França, mais uma vez no centro da crise, viu suas exportações de vinho caírem 10% entre 2022 e 2023, com a queda na demanda da China sendo um dos principais fatores.

A desaceleração econômica global, combinada com a mudança de hábitos de consumo em mercados estratégicos como o chinês, intensificou a crise. Em um cenário onde os vinhos europeus já enfrentam a competição de vinhos de regiões emergentes – como a América do Sul e a Austrália –, a redução das exportações representa um golpe significativo para a lucratividade do setor.

A resposta da Comissão Europeia foi contundente. Anunciada em outubro de 2024, a decisão de alocar 120 milhões de euros para a destruição de 4% das vinhas francesas reflete a urgência de controlar os estoques crescentes. O excesso de vinho armazenado em regiões-chave, como França e Portugal, aumentou mais de 20% em 2023 em comparação ao ano anterior, gerando preocupações sobre a sustentabilidade do setor a longo prazo. A medida é uma tentativa de equilibrar o mercado, evitando que a oferta excessiva force uma queda ainda maior nos preços.

Destruir vinhedos, uma ação extrema, busca impedir que o mercado europeu seja inundado por um excesso de vinho, o que pressionaria os produtores a venderem suas safras a preços muito baixos. Para muitos viticultores, no entanto, essa estratégia pode ser um tiro de misericórdia. O setor vinícola da França, que há gerações é símbolo de prestígio e qualidade, está agora diante de uma reestruturação que pode comprometer a sobrevivência de pequenos e médios produtores.

A crise atual vai além de uma simples redução no consumo. O vinho, uma bebida intimamente ligada à cultura e economia de países como França, Espanha, Itália e Portugal, enfrenta um momento de transição que pode reconfigurar o setor para sempre. A mudança de comportamento dos consumidores e a queda nas exportações revelam que as velhas estratégias podem não ser mais suficientes para sustentar a indústria.

Para sobreviver, o setor de vinhos na Europa terá que se reinventar. Isso significa não apenas ajustar a produção para equilibrar oferta e demanda, mas também reimaginar como atrair as novas gerações, que buscam experiências diferenciadas e estão cada vez mais atentas ao impacto ambiental e à saúde. Novas tendências, como vinhos orgânicos e práticas sustentáveis, podem oferecer um caminho de volta para a relevância, mas será necessário muito mais inovação para reconquistar o público jovem e enfrentar a concorrência internacional.

A pergunta que permanece é: o que virá a seguir para a indústria vinícola, que há séculos define o modo de vida europeu?

 

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