Polônia resgata protagonismo europeu em meio a dilemas geopolíticos e internos

09 de junho de 2025 4 minutos
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A Polônia se reposiciona com velocidade no tabuleiro europeu. Após anos de tensão com Bruxelas sob o comando do partido conservador Lei e Justiça (PiS), o país agora busca restaurar seu papel como um dos motores políticos e econômicos da União Europeia. A vitória da coalizão liberal liderada por Donald Tusk nas eleições parlamentares de 2023, seguida de bons desempenhos nas eleições locais e no primeiro turno do pleito presidencial de 2025, sinaliza uma guinada clara: Varsóvia quer voltar a ser confiável, previsível — e influente.

Esse realinhamento ocorre em um momento estratégico. A guerra na Ucrânia transformou o Leste Europeu em uma zona de atenção prioritária para a segurança continental, e a Polônia, com sua posição geográfica crítica e histórico anti-russo, tornou-se um pivô indispensável. Ao mesmo tempo, o país enfrenta pressões internas: desaceleração econômica, tensões sobre o Estado de Direito e uma sociedade profundamente polarizada.

Com mais de 38 milhões de habitantes e uma economia que representa quase 4% do PIB da União Europeia, a Polônia tem musculatura para aspirar a um papel maior. Desde sua entrada no bloco, em 2004, o país se beneficiou enormemente de fundos estruturais — mais de €150 bilhões em transferências diretas — que financiaram infraestrutura, educação e inovação. Agora, o desafio é outro: passar de beneficiária a influenciadora.

O governo Tusk tenta exatamente isso. Em Bruxelas, Varsóvia voltou a participar das discussões centrais — do pacto verde europeu à política industrial. Em Berlim e Paris, há expectativa, mas também cautela. A Alemanha, em particular, ainda observa com reservas a retórica nacionalista que não desapareceu totalmente da política polonesa.

Integração política x autonomia estratégica

Um dos dilemas centrais da nova liderança polonesa é equilibrar o entusiasmo pró-União Europeia com a tradicional defesa da soberania nacional. Isso se expressa em temas como política migratória, reforma judicial e o futuro do euro. A Polônia ainda não aderiu à moeda única e, mesmo com um governo mais moderado, há pouca disposição para acelerar esse processo, principalmente em meio à volatilidade geoeconômica atual.

No entanto, a disposição para reconstruir laços institucionais é visível. A devolução parcial dos fundos congelados pela Comissão Europeia — anteriormente retidos por preocupações com a independência judicial — foi um gesto simbólico e pragmático. Indica que Bruxelas aposta na estabilidade e no retorno da Polônia como parceiro confiável.

A relação com a Ucrânia é outro eixo decisivo para o papel regional da Polônia. Se, por um lado, o país foi um dos mais ativos no apoio militar e humanitário a Kiev, por outro, disputas comerciais e a pressão sobre o sistema de saúde e educação devido ao fluxo migratório testam os limites da solidariedade. A questão agrária, em especial, tem gerado atritos — agricultores poloneses acusam produtos ucranianos de desestabilizar preços locais, reacendendo tensões populistas.

A postura de Varsóvia será determinante para os rumos da ampliação da UE. Tusk já sinalizou apoio à adesão plena da Ucrânia, mas sabe que essa decisão exige reformas internas robustas em Kiev e um pacto político delicado em Bruxelas.

Crescimento sob tensão

Apesar do alinhamento político mais pró-europeu, a economia polonesa enfrenta um momento ambíguo. Após anos de crescimento robusto — com média de 4% ao ano na última década —, a inflação e a perda de competitividade industrial acenderam alertas. A necessidade de transição energética, aliada a uma dependência ainda significativa de carvão, impõe desafios adicionais ao modelo de desenvolvimento polonês.

O país também se vê pressionado a atualizar sua base industrial e tecnológica. A aposta do novo governo passa por inovação, digitalização e educação — setores que requerem investimentos vultosos e estabilidade institucional. O apoio europeu será crucial, mas a execução caberá à administração local.

 

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