Urnas confirmam previsões, dão vitória ao CDU e consolidam AfD

24 de fevereiro de 2025 5 minutos
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“Esse é um resultado eleitoral amargo para o Partido Social Democrata, é também uma derrota eleitoral”, declarou o chanceler Olaf Scholz no domingo ao comentar o péssimo resultado de seu partido nas eleições parlamentares alemãs, as quais inauguram um novo momento para o país.

As urnas apontaram na direção não apenas de uma mudança de governo – foi um reflexo de um realinhamento ideológico que se espalha pela Europa. Com a vitória da União Democrática Cristã (CDU), liderada por Friedrich Merz, e o crescimento recorde da Alternativa para a Alemanha (AfD), partido de extrema-direita, o eleitorado alemão mandou um recado claro: o status quo não convence mais. Mas essa guinada não se limita à Alemanha. Países como Itália, Holanda, Áustria e Suécia já haviam sinalizado essa mudança nos últimos anos, consolidando um movimento conservador que ecoa pelo continente.

Na Alemanha, a CDU emergiu como a grande vencedora, com 28,6% dos votos, mas sem maioria suficiente para governar sozinha. O grande choque, no entanto, veio com o desempenho da AfD, que atingiu 20,8% e se consolidou como a segunda maior força do Bundestag – um resultado impensável há uma década para um partido cuja retórica nacionalista e anti-imigração ainda carrega o estigma do passado alemão. O Partido Social-Democrata (SPD), do atual chanceler Olaf Scholz, sofreu um revés histórico, ficando com apenas 16,4% dos votos.

Friedrich Merz, líder da CDU, enfrenta agora um desafio duplo: formar uma coalizão viável, provavelmente com o SPD, e conter a ascensão da extrema-direita, que já se considera a real oposição ao novo governo. “O cordão sanitário precisa desaparecer”, afirmou Alice Weidel, líder da AfD, referindo-se ao isolamento político imposto ao seu partido.

A derrota da esquerda “antiwoke”

Se a direita celebrou, a esquerda fragmentada da Alemanha sofreu outro golpe. O recém-criado partido Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), fundado pela ex-membro do partido A Esquerda (Die Linke), tentou atrair eleitores descontentes tanto da direita quanto da esquerda com uma agenda contra o que chamam de “políticas identitárias radicais” – a chamada pauta “woke”. O partido, no entanto, falhou em conquistar votos suficientes para entrar no Parlamento, ficando abaixo da cláusula de barreira de 5%. A tentativa de construir uma esquerda mais nacionalista e econômica, mas distante da agenda progressista tradicional, acabou não encontrando um público forte o suficiente.

O que aconteceu na Alemanha não é um caso isolado. O avanço da direita tem sido uma tendência eleitoral na Europa nos últimos anos. Na Holanda, Geert Wilders e seu Partido para a Liberdade (PVV), de extrema-direita, venceram as eleições em 2023, enquanto na Itália, Giorgia Meloni consolidou seu governo sob a bandeira do conservadorismo nacionalista. Na Áustria, o Partido da Liberdade (FPÖ), de extrema-direita, conseguiu 28% dos votos nas eleições legislativas de setembro de 2024 lidera as pesquisas e pode governar pela primeira vez. Já na França, Marine Le Pen se mantém como uma das candidatas favoritas para a eleição presidencial de 2027, desafiando as forças políticas de centro e centro-direita que apoiaram Emmanuel Macron em duas eleições nacionais.

Mas o que explica essa virada à direita? Três fatores se destacam:

  1. Imigração e identidade nacional – A crise migratória de 2015 ainda reverbera no continente, e partidos conservadores exploram o medo da perda de identidade cultural e da pressão econômica sobre os serviços públicos.
  2. Desconfiança nas elites políticas – Muitos eleitores veem os partidos tradicionais como desconectados da realidade e incapazes de resolver problemas concretos, como o aumento do custo de vida e o desemprego.
  3. Ceticismo em relação à União Europeia – A insatisfação com a burocracia de Bruxelas alimenta movimentos eurocéticos, que ganham força entre conservadores e nacionalistas.

O que esperar?

Com a direita cada vez mais fortalecida, a Europa entra em um novo ciclo político. A questão não é apenas qual será o próximo país a aderir à onda conservadora, mas até onde essa guinada pode ir. O modelo liberal europeu, que nas últimas décadas se consolidou como um padrão de governança, está sendo desafiado por novas narrativas que reivindicam segurança, nacionalismo e proteção econômica.

A Alemanha, sempre vista como o motor político e econômico do continente, agora se torna um termômetro para o futuro da Europa. Se a AfD continuar a crescer e o governo de Merz falhar em conter seu avanço, o cenário pode se transformar ainda mais rapidamente. O que começou como uma eleição nacional pode, em poucos anos, redefinir o equilíbrio político de todo o bloco europeu.

Analistas, por sinal, apontam que a AfD pode passar de segunda a primeira força política no país em poucos anos. Isso acontecerá caso o governo de coalizão que Merz terá que montar agora não obtiver sucesso na direção de uma retomada econômica do país e de um melhor controle sobre questão migratória.

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