Em tempos de crescente preocupação com a qualidade do ar e seus impactos na saúde pública, a cidade de Uppsala, na Suécia, é considerada um exemplo a ser seguido. Segundo dados da Agência Europeia do Meio Ambiente (EEA, na sigla em inglês), Uppsala tem o ar mais limpo da Europa, seguida por Umeå, também na Suécia, e Faro, em Portugal. A classificação foi feita com base na concentração média de partículas finas (PM2.5), o poluente mais prejudicial à saúde humana, e é um reflexo do esforço contínuo da cidade em controlar as emissões poluentes.
Enquanto Uppsala celebra sua posição de destaque, o panorama geral no continente é preocupante. Três em cada quatro europeus vivem em áreas urbanas, muitas vezes expostos a níveis de poluição do ar que excedem os limites considerados seguros pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A exposição prolongada a partículas finas (PM2.5), que são geradas principalmente pela queima de combustíveis fósseis e processos industriais, está associada a uma série de problemas de saúde, como doenças respiratórias, cardiovasculares e até câncer.
O relatório da EEA revelou que apenas 13 cidades europeias atingiram o nível recomendado pela OMS, de até 5 microgramas de partículas finas por metro cúbico de ar (5 μg/m³). Reykjavik, Tallinn, Estocolmo e Helsinque, todas localizadas no norte da Europa, estão entre essas cidades privilegiadas, reforçando que regiões mais frias e com menor densidade populacional tendem a apresentar menores índices de poluição.
As partículas finas (PM2.5) são os principais vilões da qualidade do ar. Elas têm menos de 2,5 micrômetros de diâmetro – o que permite que penetrem profundamente nos pulmões e entrem na corrente sanguínea, causando danos graves à saúde. Segundo a OMS, mais de 90% da população global vive em locais onde a qualidade do ar ultrapassa os limites recomendados.
Em resposta a esse cenário, a União Europeia, por meio de seu Green Deal, estabeleceu metas ambiciosas para reduzir em pelo menos 55% o número de mortes prematuras causadas pela poluição do ar até 2030, em comparação com os níveis de 2005. A longo prazo, o objetivo é eliminar os impactos significativos à saúde até 2050.
Com uma população de cerca de 230 mil habitantes, Uppsala é um exemplo de como políticas ambientais rigorosas e o uso de tecnologia avançada podem melhorar a qualidade do ar. A cidade investe em transporte público movido a energias limpas, incentiva o uso de bicicletas e promove a conscientização sobre o impacto ambiental.
Além disso, Uppsala faz parte de um esforço coletivo entre cidades europeias para reduzir a emissão de poluentes. Medidas como a transição para energias renováveis, a modernização dos sistemas de aquecimento urbano e o incentivo ao uso de veículos elétricos têm sido fundamentais para manter a qualidade do ar em níveis seguros.
Apesar dos avanços em cidades como Uppsala, a batalha pela qualidade do ar na Europa está longe de ser vencida. A Comissão Europeia está revisando a Diretiva da Qualidade do Ar Ambiente (2008/50/EC) com o objetivo de alinhar os padrões de qualidade do ar do bloco às diretrizes mais rígidas da OMS.
Enquanto isso, a EEA promete lançar ainda este ano uma análise aprofundada sobre os impactos da poluição do ar na saúde humana e nos ecossistemas, destacando que, apesar das melhorias, muitas cidades europeias ainda enfrentam desafios significativos.
Cenário alarmante no Brasil
Enquanto Uppsala e outras cidades europeias estão na liderança com relação à qualidade do ar, a situação em São Paulo, maior centro urbano do Brasil, expõe um contraste alarmante. Segundo um estudo recente divulgado por uma empresa suíça de monitoramento de poluição, a capital paulista figurou entre os centros urbanos mais poluídos do mundo em setembro de 2024. A concentração de partículas finas (PM2.5) em São Paulo ultrapassou em muito os limites recomendados pela OMS, destacando a gravidade do problema.
Em dias de poluição atípica, como os registrados recentemente, São Paulo experimenta níveis críticos de qualidade do ar, afetando diretamente a saúde de milhões de pessoas. A causa principal desse fenômeno é uma combinação de fatores climáticos desfavoráveis, como a inversão térmica, e a emissão massiva de poluentes por veículos automotores, indústrias e queimadas. Em comparação, a concentração de PM2.5 em Uppsala é significativamente mais baixa, refletindo o esforço contínuo da cidade sueca para controlar as emissões de poluentes.