UE reage a tarifas de Trump e inaugura fase de tensão comercial com EUA

09 de abril de 2025 4 minutos
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A decisão da União Europeia de adotar um pacote inicial de retaliações às tarifas impostas pelos Estados Unidos marca um novo capítulo nas tensões transatlânticas, com implicações que ultrapassam o campo comercial e tocam diretamente nas engrenagens da geopolítica global. A medida, aprovada por unanimidade entre os 27 Estados-membros, autoriza a imposição de tarifas sobre uma série de produtos norte-americanos, incluindo soja, carne e suco de laranja — todos símbolos da base agrícola que sustenta parte importante do eleitorado de Donald Trump.

A resposta europeia vem menos como uma reação intempestiva e mais como um posicionamento estratégico, em meio a uma paisagem econômica fragilizada por crises sucessivas — pandemia, guerra na Ucrânia, inflação persistente e tensões no Mar Vermelho. Com o protecionismo ressurgindo como pilar da política externa americana, especialmente no início do segundo mandato de Trump, Bruxelas parece disposta a não repetir o papel de espectadora passiva que marcou o período de 2017 a 2020.

O momento escolhido — logo no início do segundo mandato de Donald Trump — revela o peso político do gesto. O pacote retaliatório, ainda limitado em escopo, foi desenhado para sinalizar firmeza sem escalar a disputa de imediato. Ele também é amparado por um arcabouço legal acordado junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), que permite a reintrodução de tarifas como resposta a práticas consideradas injustas.

A União Europeia não está sozinha em sua inquietação com os rumos da política comercial dos Estados Unidos. Desde o início da guerra comercial com a China, em 2018, e mais recentemente com os subsídios bilionários do Inflation Reduction Act (IRA), aprovado sob Joe Biden, parceiros históricos de Washington têm expressado preocupação com o desequilíbrio das regras do jogo.

No caso europeu, a irritação é dupla. Além do impacto direto das tarifas sobre produtos-chave de exportação, há o temor de uma desindustrialização acelerada do continente, já que empresas europeias têm transferido operações para os EUA em busca dos incentivos verdes oferecidos pelo IRA. A retaliação, nesse sentido, é também uma tentativa de conter a hemorragia e de pressionar Washington por negociações mais simétricas.

As movimentações recentes reabrem o debate sobre o papel da Europa no cenário global. A União Europeia tem buscado, ainda que de forma hesitante, fortalecer sua autonomia estratégica, com investimentos em cadeias de valor locais, acordos bilaterais com economias emergentes e uma política industrial mais assertiva. Nesse contexto, a disputa com os EUA pode catalisar uma maior coesão interna em torno de temas como segurança alimentar, soberania energética e independência tecnológica.

Ao mesmo tempo, o endurecimento europeu coincide com o avanço de negociações com países do Sul Global, como o Brasil e a Indonésia, além de uma reaproximação com a China em áreas não sensíveis. Embora essas alternativas não substituam o mercado americano em termos de volume e integração, elas reforçam a intenção europeia de diversificar parceiros e mitigar vulnerabilidades.

A inclusão de itens como soja e carne bovina na lista de retaliações é um sinal que o Brasil acompanha com atenção. Se confirmada, a taxação desses produtos pode tornar o agronegócio norte-americano menos competitivo no mercado europeu, abrindo brechas para exportadores brasileiros — ao menos no curto prazo. No entanto, o Brasil também está no radar da UE por outras razões: questões ambientais e a morosidade na ratificação do acordo Mercosul-União Europeia seguem como entraves relevantes.

É nesse cenário de incertezas econômicas e reconfiguração das alianças comerciais globais que será realizado o European Day 2025, promovido pela Imagem Corporativa. Tradicionalmente sediado em São Paulo, o evento acontece este ano em Bruxelas, em meio às expectativas pela ratificação do acordo Mercosul-União Europeia. Com transmissão online exclusiva para convidados no Brasil, o fórum reunirá especialistas, executivos e autoridades para debater como empresas brasileiras podem se preparar para esse novo ciclo de integração — transformando desafios em estratégia e posicionamento competitivo no cenário internacional.
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