União Europeia e Mercosul avançam, mas obstáculos ainda ameaçam acordo histórico

02 de dezembro de 2024 3 minutos
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Após um quarto de século de negociações, o acordo de livre-comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul avança para o que muitos consideram ser a reta final. Ainda assim, os impasses refletem as complexidades econômicas, políticas e ambientais que definem as relações entre os blocos. Com negociações intensificadas nos últimos meses, a possibilidade de uma conclusão iminente é real, mas não garantida.

As discussões estão em curso desde 1999, enfrentando sucessivas interrupções e retomadas ao longo dos anos. Acordos preliminares foram alcançados em 2019, mas questões-chave, como padrões ambientais, subsídios agrícolas e cláusulas de proteção para indústrias estratégicas, continuam a ser motivo de controvérsia.

Recentemente, houve sinais de progresso. Fontes próximas às negociações indicam que os principais pontos de desacordo foram reduzidos a questões pontuais, em grande parte dependentes de decisões políticas. No entanto, o caminho até a ratificação enfrenta obstáculos internos em ambos os blocos.

A oposição de setores dentro da União Europeia é significativa. A França, em particular, desempenha um papel central nas objeções ao acordo. O presidente Emmanuel Macron, que enfrenta pressão de agricultores e ambientalistas, insiste que o pacto deve incluir garantias ambientais robustas. Outros países, como a Áustria e a Polônia, também expressaram preocupações, tornando a aprovação unânime no Conselho Europeu um desafio considerável.

A questão ambiental é central no debate europeu. O desmatamento na Amazônia e o cumprimento de compromissos climáticos por parte dos países do Mercosul são temas que geram controvérsia. Legisladores europeus, atentos às pressões de seus eleitores e às ambições do Green Deal, buscam assegurar que o acordo não enfraquecerá as metas ambientais do bloco.

Do lado sul-americano, o Mercosul vê o acordo como uma oportunidade estratégica para aumentar sua competitividade global. O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva reiterou o compromisso com a conclusão das negociações ainda em 2024, descrevendo o acordo como crucial para o fortalecimento da integração econômica do bloco.

Apesar disso, desafios internos no Mercosul também influenciam o andamento. Divergências sobre políticas comerciais entre os países-membros e a capacidade de atender às demandas ambientais da UE continuam a ser fontes de tensão.

Oportunidades e riscos

A potencial assinatura do acordo criaria uma das maiores áreas de livre-comércio do mundo, abrangendo um mercado de aproximadamente 780 milhões de pessoas e eliminando tarifas em até 90% dos produtos comercializados entre os blocos. Estimativas sugerem que o impacto econômico seria significativo, com ganhos projetados para ambos os lados em termos de PIB e fluxo de investimentos.

Entretanto, críticos apontam para os riscos. No curto prazo, o pacto pode exacerbar tensões em setores vulneráveis, como a agricultura europeia e a indústria sul-americana. Além disso, a falta de alinhamento sobre padrões regulatórios e ambientais pode comprometer a implementação efetiva do acordo.

A próxima cúpula do Mercosul, marcada para dezembro em Montevidéu, será decisiva. Os líderes do bloco têm a oportunidade de mostrar alinhamento estratégico e disposição para atender às expectativas da UE, especialmente em relação à sustentabilidade. Por outro lado, a União Europeia precisa consolidar um consenso interno para garantir que o acordo avance para os parlamentos nacionais.

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