
A União Europeia entra na metade de 2025 com perspectivas econômicas mais cautelosas e um cenário geopolítico instável, que reflete diretamente na confiança dos mercados e nas projeções de crescimento. A Comissão Europeia revisou para baixo suas estimativas de PIB: a UE deverá crescer 1,1%, e a zona do euro, 0,9% — quedas em relação às previsões anteriores de 1,3% e 1,2%, respectivamente.
O pano de fundo é composto por uma combinação delicada de tensões comerciais crescentes com os Estados Unidos, políticas monetárias em transição e o desempenho assimétrico entre os países membros.
Desde o anúncio de tarifas generalizadas por parte do governo dos EUA, a pressão sobre a economia europeia se intensificou. Em maio, o presidente Donald Trump propôs tarifas de 50% sobre uma ampla gama de produtos da UE, com implementação prevista inicialmente para 1º de junho. Após conversas diplomáticas com Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, a medida foi adiada para 9 de julho, mas o impacto já se faz sentir: os principais índices acionários da Europa caíram fortemente e os rendimentos dos títulos recuaram, numa clara fuga para ativos de menor risco.
A retórica protecionista de Washington eleva o tom da disputa comercial transatlântica e afeta a confiança de empresas exportadoras europeias — sobretudo nas indústrias automotiva, química e metalúrgica.
Alemanha puxa a desaceleração
A Alemanha, motor industrial da UE, deverá registrar uma contração de 0,3% em 2025, segundo a Câmara de Comércio e Indústria Alemã (DIHK). É o terceiro ano consecutivo de retração, num sinal preocupante da fragilidade estrutural de uma economia altamente dependente de exportações e particularmente vulnerável à volatilidade global.
Apesar de um crescimento pontual no primeiro trimestre — atribuído à antecipação de embarques antes das tarifas —, o setor industrial permanece estagnado. O consumo doméstico segue hesitante, com os consumidores preferindo poupar diante da instabilidade geopolítica e do risco de novas medidas restritivas.
Em meio a esse cenário, o Banco Central Europeu (BCE) sinalizou prudência. Robert Holzmann, membro do conselho, defendeu publicamente uma pausa nos cortes de juros até setembro, mesmo diante da meta de inflação de 2% que começa a se concretizar. A justificativa: as tensões externas e o impacto incerto das tarifas norte-americanas podem neutralizar o efeito de estímulos monetários adicionais.
A política monetária, que até recentemente visava reacender a economia por meio de cortes nas taxas, entra agora num modo de “esperar para ver”, em que as decisões dependerão da evolução do quadro externo nas próximas semanas.
Embora o mercado de trabalho siga robusto — com a criação de 1,7 milhão de vagas em 2024 e projeção de mais 2 milhões até 2026 —, o consumo ainda não acompanha a mesma trajetória. Indicadores recentes, como o índice de confiança do consumidor na Alemanha divulgado pela GfK, mostram uma leve melhora para junho, mas revelam um padrão de contenção nos gastos.
Esse paradoxo — emprego em alta, mas consumo retraído — reforça a percepção de que os ventos contrários vêm menos de fatores internos e mais de riscos exógenos, que vão desde disputas comerciais até conflitos geopolíticos.
Perspectivas e riscos à frente
Para 2026, a Comissão Europeia mantém a previsão de aceleração do crescimento: 1,5% na UE e 1,4% na zona do euro. Esse otimismo moderado depende da normalização das relações comerciais e da estabilização do ambiente internacional.
Ainda assim, os riscos permanecem elevados. Além da disputa tarifária com os EUA, há o cenário incerto em relação à China, o potencial alargamento de conflitos regionais e as eleições em grandes potências que podem alterar o curso da política externa global.