Turquia e Coreia do Sul buscam acesso a programa europeu de compras de defesa

11 de setembro de 2025 4 minutos
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A UE enfrenta um novo teste de equilíbrio entre estratégia industrial, diplomacia e segurança, após receber pedidos da Turquia e da Coreia do Sul para aderirem ao seu programa de financiamento de compras militares. O programa, conhecido como SAFE, movimenta até €150 bilhões em empréstimos para reforçar o rearmamento do bloco e já é disputado por fornecedores externos interessados no vasto mercado europeu de defesa.

Seul tem credenciais sólidas. Nos últimos anos, tornou-se um dos principais fornecedores de armamentos para países europeus, em especial a Polônia, que tem expandido rapidamente sua capacidade militar diante da guerra na Ucrânia e da percepção de vulnerabilidade no flanco oriental da OTAN. A entrada da Coreia do Sul no SAFE, em troca de uma contribuição financeira para o fundo, tende a encontrar menos resistências políticas dentro do bloco, que vê na indústria sul-coreana uma alternativa rápida e confiável para suprir carências tecnológicas e logísticas.

O caso da Turquia é distinto. Apesar de sua posição geopolítica estratégica, na fronteira entre Europa, Oriente Médio e Mar Negro, Ancara enfrenta resistência histórica de dois Estados-membros: Grécia e Chipre. Os atritos persistem desde a invasão turca do norte de Chipre em 1974 e continuam a gerar desconfiança mútua. Embora decisões em defesa possam ser tomadas por maioria qualificada, a prática política em Bruxelas costuma privilegiar o consenso, o que torna improvável a aprovação do pleito turco sem um delicado arranjo diplomático. Para Atenas e Nicósia, a inclusão de empresas turcas em contratos bilionários financiados por fundos europeus soaria como uma legitimação indesejada de Ankara.

O SAFE foi concebido como um mecanismo para acelerar a modernização dos arsenais nacionais, pressionados pelo prolongamento da guerra na Ucrânia e pela necessidade de reforçar a autonomia europeia em relação a fornecedores externos. Embora o regulamento limite a participação estrangeira a 35% do valor dos contratos, o interesse crescente de países de fora da União mostra a atratividade do fundo. Já estão em curso negociações com Reino Unido e Canadá, mas essas tratativas encontram obstáculos, sobretudo pela relutância da França em abrir espaço a concorrentes não europeus em detrimento da indústria comunitária.

Formalizado pela Regulação (UE) 2025/1106, aprovada em maio de 2025, o programa dispõe de €150 bilhões em empréstimos a serem utilizados em projetos conjuntos de defesa. As condições financeiras incluem juros favoráveis e prazos longos de reembolso, com períodos de carência que podem chegar a uma década. Essa arquitetura torna o programa atrativo inclusive para países com dificuldades de financiamento em mercados domésticos.

Os critérios de elegibilidade são rigorosos: ao menos 65% do valor dos contratos deve ter origem na indústria europeia, com a parcela externa limitada a 35%, salvo exceções justificadas por viabilidade ou acordos anteriores. Além disso, para categorias mais sensíveis, exige-se que haja autoridade de design europeia e pleno controle tecnológico dentro do continente, de modo a reduzir riscos de dependência estratégica.

O interesse pelo programa foi imediato. Até setembro de 2025, 19 Estados-membros já haviam solicitado acesso ao SAFE. A Polônia, em linha com sua política de rearmamento acelerado, desponta como maior beneficiária, com cerca de €43,7 bilhões previstos. Outros países com fatias significativas incluem Romênia, França, Itália e Bélgica. Em contrapartida, alguns Estados optaram por não participar, argumentando que conseguem captar recursos em condições semelhantes por meios próprios ou que não possuem necessidades urgentes de modernização.

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