
A Tesla completou em agosto o oitavo mês consecutivo de retração nas vendas na Europa, um sinal de enfraquecimento de sua posição em um mercado que até recentemente era considerado estratégico para a montadora norte-americana. O desempenho contrasta com o crescimento geral da indústria automobilística no continente e expõe um cenário em que os rivais chineses, sobretudo a BYD, vêm ampliando sua presença de forma acelerada.
Os números são expressivos. Na França, os registros de novos veículos da Tesla caíram 47,3% em relação a agosto de 2024, em um mercado que cresceu 2,2%. Na Suécia, a retração ultrapassou 84%, mesmo com estabilidade nas vendas de elétricos e alta de 6% no setor automotivo em geral. Dinamarca (-42%), Holanda (-50%) e Itália (-4,4%) também registraram quedas.
As exceções foram Espanha, Portugal e Noruega. No mercado espanhol, as vendas da Tesla cresceram 161% em um ano, mas ficaram atrás da BYD, que avançou mais de 400%. Em Portugal, após sete meses de queda, houve alta de 28,7%. Na Noruega, onde praticamente toda a frota nova já é elétrica, a Tesla avançou 21,3%, mas foi superada pelo salto de 218% da rival chinesa.
A participação na Europa Ocidental caiu de 2,5% em 2024 para 1,7% no primeiro semestre de 2025. O recuo reflete não apenas a ofensiva de fabricantes chineses, mas também a pressão de montadoras europeias tradicionais que ampliaram seus catálogos de modelos elétricos. A Tesla, por sua vez, não lança um veículo de massa desde o Model Y, em 2020, o que a deixa em desvantagem num mercado em que variedade e preço se tornaram determinantes.
Ainda que a montadora tenha superado a BYD em quase 35 mil unidades vendidas em toda a União Europeia, Reino Unido e EFTA ao longo de 2025, a diferença mostra sinais de encolhimento rápido diante da expansão agressiva da concorrente chinesa.
Além da competição industrial, a Tesla enfrenta outro desafio peculiar: a reputação de seu CEO. As posições políticas de Elon Musk – incluindo apoio a partidos de extrema direita na Alemanha e no Reino Unido – têm gerado desgaste de imagem na Europa, onde consumidores associam fortemente marcas a valores sociais e políticos. Esse fator intangível adiciona uma camada de risco reputacional a uma empresa que já precisa lidar com questões de escala e competitividade.