Suécia viu inflação recorde em 2022 e espera normalização até 2024

Ciro Dias Reis é CEO da Imagem Corporativa 26 de julho de 2023 4 minutos
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A inflação na sempre estável Suécia chocou seus 10,5 milhões de habitantes em 2022 ao atingir surpreendentes 8,37%, nível mais alto desde o longínquo ano de 1990.

Esse número ajuda a explicar a desaceleração da economia sueca no ano passado, pois os aumentos nos preços da energia e bens em geral, bem como das taxas de juros, derrubaram o poder aquisitivo da população e também o consumo. O mercado imobiliário reagiu fortemente às taxas de hipoteca mais altas, arrastando para baixo a atividade de construção civil.

Prevê-se que o consumo se contraia em 2023, uma vez que os orçamentos das famílias estão sob pressão e boa parte dos investimentos entrou em compasso de espera por cenários melhores.

A previsão é de que o produto interno bruto sueco se contraia 0,5% em 2023, voltando a crescer novamente em 2024 em pelo menos 1%. O PIB sueco, de US$ 635 bilhões, equivale a 1/3 do brasileiro, mas sua população é vinte vezes menor, o que garante ao país escandinavo um PIB per capita dos maiores do mundo.

 O mercado de trabalho mostra resiliência

Se por um lado o esfriamento dos negócios nos setores imobiliário e de construção pode resultar em diminuição localizada no nível de emprego, em outros segmentos esse risco não existe. Isso porque já existe uma certa escassez de mão de obra em diversas áreas.

Vários acordos salariais recentes tentaram recompor o poder de compra ao longo dos últimos meses, mas isso teve efeito limitado. Especialistas estimam que salários reais mais baixos poderiam induzir trabalhadores mais produtivos a encontrar empregos melhor remunerados em empresas especialmente eficientes.

A taxa de desemprego na Suécia foi de 7,5% em 2022 e deve crescer discretamente este ano até chegar aos 8,0% em 2024.

Inflação e perspectivas fiscais

Depois de atingir um pico no final de 2022, a inflação nacional diminuiu devido à queda dos preços da energia. As expectativas de médio prazo, o aperto das condições monetárias e uma maior produtividade geral na economia devem permitir que a inflação possa voltar ao patamar de 2% em 2024, nível com o qual a Suécia se acostumou ao longo dos anos.

O governo sueco registrou em 2022 um superávit nas contas públicas da ordem de 0,7% do PIB, mas o jogo deve virar este ano. A previsão é de um déficit de 0,9% em 2023. Isso se deve principalmente à queda das receitas em relação ao PIB nominal devido ao enfraquecimento da economia, ao aumento de transferências de receitas de caráter social e o maior consumo do governo devido à inflação. As despesas governamentais efetuadas para apoiar famílias e empresas impactadas pela alta dos preços da eletricidade têm grande responsabilidade nesse quesito.

Além do subsídio no consumo de energia outro fator relevante contribui para o avanço das despesas governamentais: o aumento dos desembolsos no setor de defesa em um contexto de sensibilidades geopolíticas resultantes da guerra na Ucrânia e da entrada da Suécia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), depois de décadas de neutralidade.

Mesmo com o retorno do crescimento em 2024, as contas do governo  melhoram modestamente, para um déficit de 0,5% do PIB. Espera-se que o consumo e as transferências do governo continuem a crescer devido aos impactos ainda presentes nos aumentos de preços mais recentes.

Em paralelo, está prevista também uma retirada gradual das medidas temporárias de emergência da COVID-19, que chegaram a 1,1% do PIB em 2022.

Apesar de despesas governamentais forçadas pela pandemia, pelos custos com a defesa e por medidas destinadas a neutralizar parte da inflação para pessoas e empresas, o percentual de dívida pública em relação ao PIB é bastante confortável na Suécia, sempre em torno dos 30%.

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