As tensões entre montadoras chinesas e europeias aumentaram durante o Salão do Automóvel de Paris nesta semana, enquanto a União Europeia se prepara para impor tarifas de até 45% sobre veículos elétricos fabricados na China. A medida visa combater o que o bloco europeu considera como subsídios injustos do governo chinês às montadoras locais, mas ocorre em um momento de demanda fraca no mercado automotivo europeu, criando incertezas para consumidores e fabricantes.
Este ano, o evento – o maior salão automotivo da Europa – assume um papel importante para os fabricantes europeus, que buscam reafirmar sua relevância no mercado global diante da crescente presença de marcas chinesas. Enquanto as montadoras europeias enfrentam desafios para se manterem competitivas, as chinesas, como BYD e Leapmotor, estão aproveitando o momento para se expandir no mercado europeu.
Stella Li, vice-presidente da BYD, alertou para as consequências diretas que essas tarifas poderiam ter sobre os consumidores europeus. “Quem paga a conta? Os consumidores. Isso impede que as pessoas com menos poder aquisitivo comprem carros elétricos,” afirmou Li à Reuters, destacando a preocupação com o aumento dos preços.
Por outro lado, Carlos Tavares, CEO da Stellantis, levantou outra preocupação. Ele afirmou que as tarifas poderiam estimular as montadoras chinesas a construir fábricas na Europa, exacerbando o excesso de capacidade de produção na região e levando ao fechamento de plantas de fabricantes locais.
Apesar das críticas, as marcas chinesas continuam avançando com seus planos de expansão na Europa, sem indicação de que aumentarão os preços para compensar as tarifas. Até agora, elas mantêm uma leve vantagem competitiva ao precificar seus modelos um pouco abaixo dos rivais europeus, além de oferecerem mais recursos como padrão, estratégia semelhante à adotada por montadoras japonesas e sul-coreanas no passado.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, comentou sobre as negociações em andamento com a China, sugerindo que alternativas às tarifas podem ser possíveis, como compromissos de preços ou investimentos chineses na Europa. “Há muitas questões sobre a mesa. Tudo só estará fechado quando todas as peças forem negociadas”, afirmou Von der Leyen.
As montadoras chinesas, que no Salão de 2022 representavam quase metade das marcas presentes, correspondem a apenas 20% este ano, em parte devido a uma presença europeia mais forte. Isso reflete a determinação da indústria europeia em defender sua participação no mercado diante da competição cada vez mais acirrada.
Enquanto isso, o mercado automotivo europeu continua em baixa, com as vendas de veículos atingindo seu menor nível em três anos em agosto, contrastando com o aumento de 4,3% nas vendas de veículos de passageiros na China em setembro, impulsionadas por subsídios governamentais.