Dez anos atrás, uma notícia instigante reverberou pelo mundo. Em maio de 2013, a NASA concedeu uma bolsa de US$ 125 mil ao engenheiro mecânico Anjan Contractor para a construção do protótipo de uma impressora de alimentos 3D. Naquela época, a tecnologia 3D era comumente associada à produção de objetos, enquanto a ideia de imprimir comida ainda parecia pertencer ao domínio da ficção científica.
Uma década depois, a produção de alimentos através de impressão 3D ainda não conquistou o grande público, mas a startup de tecnologia alimentar Revo Foods está determinada a mudar essa realidade. Ela se tornou a primeira empresa a obter licença para comercializar filés de salmão vegano impressos em 3D nos mercados europeus, chamado “The Filet” (O Filé, em português), que se destaca por ser 100% vegano e produzido principalmente a partir de micoproteína, uma proteína derivada de fungo filamentoso. Além de ser vegano, o “salmão” também não contém glúten ou açúcar.
A micoproteína usada no The Filet é elogiada pela sua textura natural semelhante à carne, além de requerer um mínimo de processamento. É também mais sustentável, pois demanda menos recursos, incluindo água, em comparação com outras fontes de proteína.
Por enquanto, esse produto inovador está disponível em algumas localidades de Viena, na Áustria. Além disso, a Revo Foods mantém uma loja virtual que possibilita o envio dos filés para a maioria dos países europeus.
Segundo Robin Simsa, CEO da Revo Foods, assim como o salmão de verdade, o filé apresenta textura e camadas visíveis, e tem um sabor semelhante ao do peixe. No entanto, assim como qualquer outra alternativa à carne, o sabor não é 100% idêntico.
A empresa comercializa porções de 130 gramas por sete euros. O CEO da startup acredita que o preço do produto deverá diminuir à medida em que a empresa automatiza mais etapas do processo, além da impressão 3D, e aumenta a produção.
Essa inovação representa um marco para a incipiente indústria de alimentos alternativos impressos em 3D, que tem explorado diversos ingredientes e tecnologias para criar produtos sustentáveis. No que se refere a frutos do mar e peixes, algumas startups desenvolvem opções à base de plantas, enquanto outras cultivam células de peixes em laboratório. A impressora 3D da Revo Foods, por sua vez, utiliza camadas feitas a partir de raízes de cogumelos e gorduras vegetais para reproduzir a textura do salmão real.
O mercado de frutos do mar e peixes veganos já recebeu investimentos superiores a US$ 400 milhões em startups nos últimos anos, dos quais US$ 7 milhões foram direcionados à Revo Foods. Entretanto, até o momento, nenhuma empresa alcançou grandes lucros com esses empreendimentos.
Nos cálculos da consultoria Research and Markets, o mercado mundial de alimentos 3D deve movimentar, em 2030, US$ 11,3 bilhões, evoluindo até lá a uma taxa anual composta de 50,2%, descrita pelos analistas como “notável”. Em 2020, não chegava a meio milhão de dólares.