A Federação Alemã de Futebol surpreendeu o mundo esportivo ao anunciar recentemente uma mudança histórica em sua parceria de fornecimento de material esportivo. Após uma relação de mais de sete décadas com a Adidas, a entidade fechou um contrato de oito anos com a Nike.
Essa decisão representa não apenas uma troca comercial, mas um marco simbólico na identidade esportiva da Alemanha, a menos de três meses do início da Eurocopa 2024, sediada no país entre 4 de junho e 14 de julho.
A decisão da DFB, a federação alemã de futebol, de trocar a Adidas pela Nike como fornecedora de material esportivo não pode ser vista apenas como uma decisão comercial. A retirada das três listras dos uniformes da Alemanha e a chegada do Swoosh carregam um simbolismo enorme para o país.
A Nike já havia tentado quebrar o acordo da DFB com a Adidas em meados dos anos 2000, mas não obteve sucesso. Agora, levou adiante seu plano e provocou grandes reações na Alemanha.
Pelo novo acordo, a Nike será a nova parceira da DFB a partir de 2027 e até 2034. Oficialmente os valores não foram divulgados, mas a imprensa alemã fala em 100 milhões de euros. Esse montante é o dobro do que paga atualmente a Adidas, com a qual a federação mantém contrato desde 1954.
Robert Habeck, ministro da Economia do governo de Olaf Scholz foi um dos políticos que se manifestaram sobre o acordo. “Não consigo imaginar a camisa alemã sem as três listras. Adidas e o preto, vermelho e dourado sempre estiveram juntos para mim. Como parte da identidade alemã. Eu teria gostado de um pouco mais de patriotismo local”.
A Adidas possui essa importância para a Alemanha, assim como suas montadoras automotivas. Tornou-se uma referência cultural do país e também de sua excelência. No futebol esteve ao lado da seleção nos quatro títulos mundiais. Em 54, Adi Dassler, fundador da Adidas, foi o responsável direto pela produção das chuteiras dos jogadores.
Outros políticos reforçaram o coro contra a mudança na fornecedora de material esportiva da seleção alemã. Através do Twitter, o ministro da Saúde, o social-democrata Karl Lauterbach, também manifestou sua decepção com a mudança. A escolha de uma empresa americana para vestir a seleção alemã é “um erro”, lamentando que “o comércio destrua uma parte da pátria e uma tradição”.
Ao ser questionado sobre a decisão em uma cúpula da União Europeia em Bruxelas, o chanceler alemão Olaf Scholz não quis avaliar a mudança.
“A Federação Alemã de Futebol decidiu, não pediu a minha opinião. O importante é que marquem gols”
Markus Soder, Ministro-presidente da Baviera, região sul da Alemanha onde a Adidas está sediada, foi outro político a comentar sobre o assunto e questionar uma possível perda de identidade da seleção nacional com a mudança para a Nike.
“Uma questão financeira. O futebol alemão sempre fez parte da história econômica alemã. A seleção nacional, que joga com as três listras, era tão identificável como dizer que a bola é redonda e que uma partida dura 90 minutos”
O fim de importantes ciclos
Ao longo de mais de sete décadas, a Adidas foi a patrocinadora das seleções da Alemanha nas conquistas de quatro títulos da Copa do Mundo e três da Eurocopa masculinas, dois troféus da Copa do Mundo e mais oito taças da Euro femininas.
Segundo a federação de futebol da Alemanha, a Nike ofereceu a melhor oferta do ponto de vista econômico e também convenceu a entidade com a sua visão. De acordo com o jornal “Bild”, a empresa norte-americana deve pagar mais do que os 50 milhões de euros (R$ 272,3 milhões) que a companhia alemã desembolsa por ano.
De acordo com a imprensa local, a troca da Adidas pela grande rival é motivada por problemas financeiros que vão além da DFB. A Alemanha passa por um período de estagnação econômica, e a substituição de patrocinadora obscurece ainda mais as perspectivas. Recentemente, a fabricante de carros Volkswagen foi preterida como patrocinadora da Euro por sua rival chinesa, BYD.