Reino Unido aceita pagar mais por medicamentos em troca de isenção tarifária dos EUA

02 de dezembro de 2025 3 minutos
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Washington e Londres anunciaram nesta segunda-feira um acordo preliminar que encerra meses de tensão comercial no setor farmacêutico e marca uma das primeiras vitórias da estratégia de Donald Trump de pressionar países desenvolvidos a elevar gastos com medicamentos americanos.

O pacto, que faz parte do Acordo de Prosperidade Econômica entre os dois países, prevê que o sistema de saúde britânico eleve em 25% o preço líquido pago por novos medicamentos. Em contrapartida, produtos farmacêuticos britânicos estarão isentos das tarifas da Seção 232, mecanismo usado pelos EUA para impor taxas por razões de segurança nacional, durante o mandato de Trump.

O acordo representa uma reversão significativa na política de contenção de custos do Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS). A taxa cobrada das empresas no regime VPAG, que limita o crescimento dos gastos com medicamentos de marca, cairá de 23,5% para 15% a partir de 2026, oferecendo alívio a fabricantes que há anos reclamavam do ambiente operacional britânico.

Para o governo Trump, o entendimento materializa uma promessa central de campanha. Estudos mostram que americanos pagam entre duas e três vezes mais por medicamentos do que europeus, diferença que o presidente atribuía a práticas de preços “artificialmente suprimidos” no exterior. A política de Nação Mais Favorecida, lançada em maio, busca alinhar custos internacionais e pressionar sistemas de saúde estrangeiros a pagar mais.

A pressão surtiu efeito antes mesmo da assinatura. Nos últimos 18 meses, gigantes britânicas como AstraZeneca e GSK anunciaram investimentos bilionários nos EUA enquanto cancelavam ou suspendiam projetos no Reino Unido. A AstraZeneca chegou a comprometer 50 bilhões de dólares em manufatura americana, e a GSK prometeu 30 bilhões para pesquisa e produção no país nos próximos cinco anos.

O acordo também altera a forma como o Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados (NICE) avalia medicamentos. O órgão britânico determina se novos tratamentos são custo-efetivos para o NHS usando o conceito de ano de vida ajustado pela qualidade, com limite de 30 mil libras. As mudanças estruturais nesse modelo devem facilitar a aprovação de medicamentos inovadores, embora detalhes técnicos não tenham sido divulgados.

A farmacêutica Bristol Myers Squibb afirmou que pretende investir mais de 500 milhões de dólares no Reino Unido nos próximos cinco anos, sinalizando que empresas podem voltar a enxergar o mercado britânico como atraente.

Para o NHS, o pacto traz desafios fiscais evidentes. O sistema já enfrenta pressões orçamentárias crônicas, e elevar gastos com medicamentos em um quarto exigirá realocação de recursos ou aumentos de financiamento. O governo britânico defende que o acesso acelerado a tratamentos inovadores justifica os custos adicionais e que mudanças no NICE garantirão maior eficiência nas avaliações.

A União Europeia observa com apreensão. Ao contrário do Reino Unido, o bloco não pode facilmente negociar preços de medicamentos de forma centralizada, já que cada país controla suas próprias políticas de compra. Analistas alertam que Washington pode agora mirar outros mercados europeus, pressionando por concessões semelhantes sob ameaça de tarifas.

O acordo vigorará pelo menos durante o mandato atual de Trump e pode servir de modelo para futuras negociações com outros países. Se a estratégia americana se replicar, sistemas de saúde públicos em todo o mundo desenvolvido enfrentarão escolhas difíceis entre elevar gastos ou perder acesso prioritário a novos tratamentos.

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